quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O nó da felicidade.

    Já faz algum tempo que ouvi pela primeira vez alguém comentar sobre Hobbes e seu Leviatã. Como se tratava de minha melhor amiga e pessoa que considero da melhor qualidade, principalmente sob o aspecto da generosidade humana, a princípio estranhei a defesa de argumentos como a maldade inata ao homem e sua predisposição ao egoísmo e selvageria. Como não tinha nenhum conhecimento sobre a obra, presumi que a argumentação apresentada deveria ser das melhores, tal foi a persuasão que causou.
    Semana passada tive algum conhecimento a mais sobre o tema, em uma aula de antropologia filosófica. Óbvio que Hobbes não é Hobbes à toa e toda a concatenação de suas idéias que, a princípio soariam grosseiras ou indigestas face ao moralismo humano, tornam o conjunto harmônico e muito bem fundamentado. Não é agradável ouvir suas idéias e ter que admitir que, pelo menos em alguns pontos, nos encaixamos no conceito apresentado sim.
    E lá fui eu, novamente, discutir o tema insolúvel da felicidade. Minha amiga permanece firme na tese hobbesiana de que o homem é mal por natureza e só é feliz por comparação. Sabedora das minhas paixões humanas, me questiona se eu não acho que uma pessoa que mora na orla da zona sul, por exemplo, seria mais feliz do que eu, pelo simples fato de morar ali. (entendi bem?) A princípio, não percebi o ardil da pergunta e, embora meio a contragosto, respondi que sim. Claro que isso ficou martelando na minha cabeça e não sosseguei até entender o porquê.
    Não sei se a questão é realmente de felicidade por comparação, porque acho que não se trata de relacionar qual felicidade é maior ou mais completa dentre as apresentadas em relação ao objeto que nos proporciona, como se numa relação exógena. Não concordo que uma pessoa seja necessariamente mais feliz do que outra porque possui mais bens, status, posição social. O que vejo é gente que, como já escrevi em post anterior, a princípio teria tudo para ser feliz e não é. Ou porque não valoriza o que tem, o que é, ou ainda quer mais, só nem sabe bem do quê.
    Não sou hipócrita de negar que acredito que os bens materiais podem proporcionar felicidade, mas a questão é até que ponto a felicidade sentida será advinda estritamente da sua posse. Admito que os bens materiais podem incrementar uma felicidade já existente, porque ela é intrínseca, é um modo como percebemos as coisas e por isso não será a ausência desse ou daquele objeto que nos retirará dessa condição. Talvez, devido a essa eterna insaciabilidade humana, os bens materiais proporcionem não felicidade, mas mera satisfação, a qual, por definição/contextualização seja, necessariamente, efêmera.
    Talvez ser feliz passe um pouco pela questão de sentir-se feliz com quem se é e com o que já se tem; talvez ter consciência de que algumas coisas dependem mais de nós mesmos do que do destino ou infortúnio. Mas isso nos levaria a admitir que somos inertes e passivos muitas das vezes, e isso também não é confortável, pois nos torna mais responsáveis do que julgávamos.
    Admito minha pequenez e não tenho nenhuma pretensão de esgotar o assunto, quiçá de angariar posições a meu favor, ainda mais quando nem eu mesma tenho confiança e segurança para lidar com ele. Tudo isso só corrobora a idéia de que este blog é mais um diário, um espaço para registrar esses meus devaneios e convencer-me sempre mais de que sou uma simples amante desses assuntos.
    É o que acho. Hoje. Cada um tem seu conceito de felicidade. Desejar o que não se tem é fácil e, ao que parece, naturalmente humano. Eu quero é ser feliz com quem eu sou, pois isso acho que intempérie nenhuma nos tira. Sei que ainda tenho muito a aprender e, quanto mais procuro, mais vejo a vastidão do horizonte e é isso que me compraz.

PS. Texto postado com mais de um mês de atraso...
Deixei a poeira baixar para tentar melhor clarificar as ideias e, como não obtive sucesso, transcrevo tal qual se encontra. Acho que o emaranhado é intrínsico ao tema, e não adianta tentar me meter a desatar alguns nós que vem sendo debatidos há séculos.