segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Gosto musical e intelectualidade

    Não adianta mais tentar fugir. A essa altura do campeonato todo mundo já ouviu, já conhece e, amando ou odiando, já sabe cantar o maldito hit-chiclete que parece ser a cara desse nosso verão. Antes, toda nossa indignação era canalizada para o BBB, para os programas de auditório com aquelas baixarias de família, para o Domingão. Agora ela divide o palco com outras “delícias” e “Luizas”.
    Não posso deixar de dizer que fiquei decepcionada ao ver que um telejornal que eu acho relativamente bom, como o Bom dia Brasil, dedicou um tempo considerável para explicar o novo fenômeno que, pelo pouco que entendi, tem algo a ver com a ausência da tal Luíza e o Canadá.
    O que tenho reparado nas ruas e lendo os jornais é que os indignados parecem ser em tão grande ou maior número do que os próprios semeadores da tal cultura inútil. No final das contas, ainda que recriminando pelos cantos, esbravejando nosso descontentamento, acabamos sendo também os grandes financiadores da dita inutilidade.
    Mas, pensando bem, por que os defensores da expansão intelectual 24 horas por dia teriam orgulho de cantar algo do tipo “Paçoca, mariola, quindim, frumelo, doce de abóbora com coco, bala juquinha, algodão doce e manjar” por aí? Acho o cúmulo da breguice, mas, a partir do momento em que sabemos a proveniência de tais palavras, a história muda de figura. Afinal, ouvir Michel Teló é desprezível; apurar a audição com Marisa Monte é chique!
    E dessa, você gosta? Já cantou e dançou muito ao som dela, confessa?

Ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, aaaaaaai
Ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, aaaaaaai
Ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, aaaaaaai
Ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, aaaaaaai

    Super brega!!! Mas, sabendo tratar-se de "Banho de Chuva", da Adriana Calcanhoto a gente olha com outros olhos, não é mesmo?
    Sabe outra que, motivo de grandes gargalhadas de uma certa duplinha de irmãs, é responsável, desde criança, por essa visão esculhambada que tenho de algumas músicas brasileiras?

Quem dera ser um peixe
Para em teu límpido
Aquário mergulhar
Fazer borbulhas de amor
Prá te encantar
Passar a noite em claro
Dentro de ti... Um peixe
   
    Pessoas, compreender essa letra é um dos meus grandes desafios desde a infância! Alguém, por favor, qualquer um, você mesmo, me explique o sentido da mensagem? Que metáforas são essas, pelo amor de deus??!!
    Escrevo isso tudo, mas admito que já fui pega em flagrante delito assistindo BBB, os mal fadados bate-bocas vespertinos e resmungando a Delícia pelos cantos. Tenho meus livrinhos sobre besteirol feminino e não posso ver um gibizinho ou uma Marie Claire. Sei cantar um ou outro pagode, já fui a um show da Ivete Sangalo e até a um baile funk. Assumo, ué. Afinal, “eu não pedi pra nascer; nem vou sobrar de vítima das circunstâncias”.
    Acho que tudo pode ser balanceado. Logo, permito-me também alguma dose de cultura inútil, pois caso continue lendo somente essas filosofias brabas, estilo Nietzsche, Schopenhauer, Freud e afins, daqui a pouco, enquanto os chicletinhos e chicleteiros, pagodeiros e ex-bbb’s estarão em turnê ou de férias pela Europa, eu estarei trancafiada dentro de algum hospício! É claro que prefiro atividades que tragam alguma evolução espiritual, mas deixemos “cada um no seu quadrado” e esperemos que o darwinismo intelectual faça a sua parte.
   
   
    Aliás, só para finalizar. Obviamente precisei da ajuda do querido google para transcrever a passagem de algumas letras. A “Não é proibido”, da Marisa Monte, por exemplo, cujo nome eu nem sabia. Percebi que um de seus refrões diz assim:

Vai ser nesse fim de semana (uh)
Manda um e-mail para a Joana vir (uh)
Woo.. Uh!
(uh)
Não precisa bancar o bacana (uh)
Fala para o Peixoto chegar aí! (uh)

    Cara, achei muito preconceituoso isso! Por que cargas d’água a Joana e o Peixoto não podem ficar de fora da festa, mas esquecemos a Luiza? Coitada! “Era só uma menina, e eu pagando pelos erros que eu nem sei se cometi. Se eu queria enlouquecer essa é a minha chance”... Essa é a nossa chance! Permaneça incólume quem for capaz e faça o favor de compartilhar a receita!

Limites da vaidade

    Não é com frequência, mas, de vez em quando acontece de eu estar no salão e, seja pelo fato de ser um ser humano condenável, seja pela simples falta de opção, acabo tendo uma revista Caras, Contigo ou outras do gênero nas mãos. Certamente não são muitas as “matérias” ali capazes de mudar nossas vidas, mas consigo extrair delas alguma diversão.
    O que sempre acho legal são aqueles quadrinhos clássicos, dos ditos in e outs; o que pode e o que não pode; o proibido e o permitido; o brega e o fashion. Como o excesso de vaidade não me toca muito, um dia desses, na praia, tive a ideia (talvez produto de uma insolação) de fazer uma tabelinha dessas, ao melhor estilo Jessica’s style of life.

OUT: Esmaltes fuchsia, lápis-lazuli, magenta ou fumê
IN: Esmaltes laranja, sempre que der vontade

OUT: Biquínis descombinados, tipo uma peça verde, a outra azul e uma alça amarela. Não esqueça a sandália dourada.
IN: Peças descombinadas porque você adora aquele seu biquíni rosa, mas a calcinha do conjunto não lhe cabe mais. Mescle com o azul mesmo.

OUT: Cabelos curtos a partir dos 30 anos
IN: Cabelos compridos a partir dos 30 anos, porque sua avó já diz, há mais de 80, que não se mexe em time que está ganhando

OUT: Cabelos lisos e escovados, custe o que custar (ainda que seja o convite para um banho de chuva com seu namorado)
IN: Cabelos naturais, de modo que possa deixá-los secar livremente no caminho pro trabalho ou atender ao entregador de pizza sem enrubescer

OUT: O celular da moda, com todas aquelas funcionalidades que lhe tomarão uns 2 anos para entender. E que talvez você nunca use
IN: Celular de última geração só se você ganhar de presente

OUT: Frequentar o barzinho e o restaurante do momento só para não fazer feio com os amigos
IN: Frequentar o boteco sempre que estiver em boa companhia, desde que sirvam mate e uma boa comida

OUT: Usar bolsa, óculos, relógio e roupas de grife, mesmo que falsificadas
IN: Usar as bolsas, roupas e acessórios que puder comprar, desde que originais

OUT: Silicone, butox, lipo, lifting e excesso de pancake
IN: Enquanto a mãe natureza permitir, prezar pela originalidade por dentro e por fora

OUT: Blusa com listras horizontais porque está na moda, mesmo se você for baixinha e cheinha
IN: Blusa de listras horizontais só se te cair bem

OUT: Acessórios de oncinha, ainda que carregue demais o seu visual
IN: Acessórios de oncinha sempre que lhe der na telha

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Educação na Coréia do Sul

    Há cerca de três semanas assisti um programa no canal Futura sobre a educação na Coréia do Sul. Achei interessante, pois eu não tinha nenhuma ideia sobre o sistema de ensino por lá.
    Fiquei surpresa quando vi a rigorosidade com que o assunto é tratado. Além de passar várias horas por dia nas escolas, a grande maioria ainda frequenta cursos extensivos na parte da tarde e estuda várias horas nos finais de semana. Para quem não tem condições de pagar os referidos cursinhos, a derrota na competitiva disputa por um futuro promissor é praticamente certa.
    Um ocupante de cargo na área de educação falou sobre o excessivo clima competitivo em que os adolescentes estão inseridos, o modo como são cobrados diariamente pelos pais, mas, principalmente, por si mesmos. Enxergam uns aos outros como adversários em potencial. Com pouco (talvez nenhum) tempo dedicado às brincadeiras e atividades mais leves, é alto o índice de suicídios por lá nessa faixa etária. Sempre preocupados com a concorrência, pressão e cobrança, ficam estressados além da conta.
    Também se faz presente a preocupação com a ocupação de cargos menos visados. Como se pergunta o diretor de uma escola, quem vai almejar uma carreira de pintor, na construção civil ou outras de não tanto prestígio, numa geração que sonha tão alto?
    Interessante também ouvir os próprios adolescentes falando sobre sua rotina e seus planos para o futuro. A eloquência deles é surpreendente. Meninos e meninas de 15 anos, falando com uma desenvoltura que penso nunca ter desenvolvido, apesar da timidez, mesmo após meus cinco anos de preparo para a advocacia. O sonho de um desses garotos, inclusive, era tornar-se um advogado com escritório em Manhattan e ser proprietário de uma casa em alguma ilha grega. Simples assim! E eu, que me dava por satisfeita por ter conseguido, ao menos em potência, realizar o sonho trino clássico de toda menina, aeromoça, advogada e bailarina, comecei a pensar que talvez tenha sonhado raso demais.
    Não sei. Estou pensando sobre esse programa há dias. Acho que por ser algo tão distante da realidade brasileira, fiquei meio perdida, sem saber por onde começar a raciocinar. Dois extremos tão distantes. Parece que era mais fácil criticar e pensar um sistema de educação tão desenvolvido como uma utopia, distante e impraticável. De certa forma, encerrava o assunto. Mas, ao que parece, encará-lo de frente, como uma realidade, também não é tarefa tão fácil.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Ano Novo; Promessas Velhas

    Mais um ano que começa. Época de promessas. Fazer dieta, malhar, estudar, aprender um idioma, terminar a monografia, encontrar um novo amor, viajar. Matrícula na academia, no cursinho, check up marcado, hora no salão pra mudar o visual, agenda novinha debaixo do braço (a qual será deixada de lado até meados de março). Como sempre, os mesmos planos e atitudes do ano retrasado, pois creio que sejam poucos os que conseguiram cumprir as metas a que se propuseram na virada anterior. Como diz meu ídolo Bono Vox: nothing changes on New Year’s day.
    Mas isso não é uma crítica não. Pelo contrário. É só uma constatação. Eu mesma continuo com o mesmo plano de todos os outros anos, qual seja, não fazer planos. Primeiro para não me sentir frustrada, caso chegue ao final de 2012 sem conseguir cumprí-los; segundo porque não tenho muito mais o que desejar. Se as coisas continuarem no ritmo que estão, já me dou por satisfeita. Nesse assunto, por incrível que pareça, adoto a ideia do Zeca Pagodinho e deixo a vida me levar. Minha única esperança é a de que me leve para algum bom lugar.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Capacidade de tolerar

    Ontem assisti a um filme intrigante. Num final de sábado, sem planos mais interessantes, peguei o jornal e resolvi partir para o Artplex, decidida e inspirada a assistir a um filme estilo cult, num daqueles ambientes onde se ouve pessoas falando em inglês do lado direito e outras em francês do esquerdo. Dá até a impressão de que estamos num pedacinho da Europa, de frente para uma das paisagens mais bonitas do Rio. Resumindo, um daqueles refúgios que eu, particularmente, adoro.
    O garoto da bicicleta. Engraçado que, assim que o filme terminou, minha reação imediata, bem como a de alguns outros espectadores que exclamaram um “hum?” foi de decepção. Sabe um daqueles finais em que você se pergunta: “Acabou? Assim mesmo, de repente?” Então. Foi assim. A princípio, frise-se. Não tardou muito e na própria volta para casa acho que vislumbrei a beleza do filme. Senão a intencionada pelo diretor, ao menos a que minha sensibilidade foi capaz de auferir.
    Até que ponto vai a nossa capacidade de amar e de perdoar? Acreditamos que as pessoas podem mudar e, mais importante, até que ponto estamos dispostos a esperar por isso? Eu me incluo na categoria dos que acreditam sim que as pessoas podem mudar. Tem gente que persiste na ideia ferrenha de que não; personalidade, caráter, ideais, trejeitos, visão de mundo, é tudo inalterável. Respeito, mas não abraço a ideia. Basta olharmos um pouquinho para trás na nossa própria existência. Nossa! Agradeço todos os dias pelas transformações de que já fui vítima e receberei de bom grado as vindouras. A grande questão que me vem agora é até que ponto eu teria paciência para esperar pela transmutação alheia. E esperar sem interferir de forma direta, pois neste caso seria um falso acreditar.

Qual o seu destino?

    Esse sábado foi engraçado porque foi um daqueles raros em que, precisando de muito espaço e tempo livre para pensar, dar vazão a esses pensamentos que tem me tirado o sono e trazido mais pressão do que eu gostaria, resolvi somente correr e não andar de bicicleta, pois nem ao trânsito eu estava disposta a oferecer minha atenção. E assim foi. Depois da primeira volta, como é de costume, parei para tomar alguma coisa sobre uma sombra acolhedora e, vejam que sorte, encontrei um Golden bem do meu lado, o qual, ganhando meu afago, ainda que de forma despretensiosa, também me acariciou. Depois da segunda volta, nova parada em outro de meus abrigos favoritos.
    Com meus fones inseparáveis, na pracinha dos bebês, ao lado de uma mãe e seu filhotinho. Ali me deixei levar, menos pela música e mais pelos pensamentos arredios, soltos, desconexos, desregrados, apaixonados e, ao mesmo tempo, e não ilogicamente torturantes! Quando finalmente dei por mim e voltei do “transe”, a mamãe ao lado me pergunta se pode me fazer uma pergunta. Como não uso relógio, fiquei meio ressabiada, pois o que uma desconhecida poderia querer me perguntar senão as horas? Mas, claro, disse que sim. A danada perguntou se, por acaso, eu estaria meditando. Minha primeira reação foi dar uma daquelas minhas gargalhadas características, que quem me conhece reconhece a uns 2 quarteirões de distância. Depois respondi (verbalmente) que não; estava só ouvindo música e filosofando; que quando ouço música filosofo mesmo, me disperso, mas não chego a meditar não. Ela disse que eu parecia estar de olhos fechados, como se estivesse meditando. Cara, sei que não parei mais de rir. A mulher deve ter me achado uma doida, e o que eu não daria para ver minha própria fisionomia num desses momentos!
    Sabe que voltei para casa pensando que, quem sabe, aquilo também não fosse, de fato, uma forma de meditação? A grande questão é que a meditação tradicional visa te trazer para o presente e, garanto, o presente é o último lugar onde eu estava naquele momento! Meus destinos principais são sempre o futuro do pretérito e o pretérito imperfeito mas, nem por isso, talvez, seja um método menos eficaz.