segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Natal de 2011

    Como é fato que sou adepta de um estilo nostálgico, resolvi tentar escrever sobre algumas lembranças que costumam advir nessa época do ano. Foi bom recordar algumas coisas da infância, embora não sem grande esforço de memória, devido ao mal que padeço nesse quesito. Pena que, graças a essa minha deficiência, com certeza muitas coisas legais restarão perdidas.
    Lembro-me de ficar deitada no chão, sentada nos degraus de casa, contando os pássaros em revoada, e que chegavam as centenas... Nunca mais passaram voando sobre mim ou sou eu quem não teve tempo de, sempre avoada, parar para observá-los?
    Lembro de fazer sorvete, sacolé. De pular elástico, andar de patins agarrada no para-choque dos carros, de subir em árvores e o medo que precedia tal peripécia. De correr, pular, cair, machucar os joelhos sempre no mesmo lugar, enquanto as feridas anteriores nem estavam ainda devidamente saradas. Tempo em que não me importava com cicatrizes. Quando nem imaginava o que eram marcas de estrias ou de rugas.
    Lembro de, em minha ultra inocência, trocar dez papéis de carta por um (isso quando ele não vinha com envelope, hipótese em que me desfavorecia de onze!), e de dar dez bolinhas de gude em troca de uma, só por ser esta um pouco maior do que as minhas! Perdemos todos a inocência e estou certa de desconfiar até mesmo de toda e qualquer promoção simplesmente por ser boa e fácil demais?
    Lembro do dia de brincadeiras onde deixei que me pintassem e vestissem de noiva (pelo menos, resta o consolo de que, ao menos uma vez na vida, tive a experiência). Época em que, ausente essa timidez que hoje não me permite grandes exuberâncias, andava pelas ruas fantasiada em meu vestido verde e no salto alto da vovó. Onde está aquela coragem que me fazia uma criança despudorada, que se fantasiava de odalisca e fadinha, e que se tornou uma adulta que, com alguma frequencia, gostaria de andar vestida sob uma capa de invisibilidade?
    Saudades da época em que o castigo era não poder sair para brincar e nos divertir desvairadamente, enquanto hoje vivemos reclamando de quem nos tira do sério.
    Digam-me que não eu era a única a ouvir o mesmo CD (e fitas K-7, ok) dezenas de vezes, acompanhando o encarte com as letras e de se imaginar cantando e dançando desenvoltamente no meio da multidão? Escrevo isso ao mesmo tempo em que olho para a estante bem aqui atrás, ainda com CDs intactos, comprados há pelo menos dois anos.
    Lembro do quanto esbravejava por ter que atender o telefone. Agora, não me imagino sem celular. Tempo, aliás, em que trote era simplesmente ouvir a voz da pessoa do outro lado da linha dizendo alô em vão, enquanto agora reputamos qualquer ligação estranha como precursora de algum falso sequestro.
    Lembro como se fosse ontem dos olhos inchados por ser obrigada a sair de casa para comprar sapatos. Quem imaginaria a centopeia em que me transmutaria, não?
    Todas essas lembranças trazidas a tona nessa época do ano, quando sempre me recordo de como descobri que Papai Noel não existia. Lá estava eu esperando por ele. Olhos fixos no céu do quintal de minha casa. Passava da meia noite e nada! Obviamente não entendia nada de trânsito, ainda mais o aéreo, mas, com certeza, a hipótese de atraso estava completamente descartada, de modo que imediatamente esbravejei que ele não existia. Na esperança de algum consolo, eis que me dizem simplesmente: “Tá bom. Ele não existe mesmo. Mas não conta nada pra sua irmã, tá?” Foi a primeira verdade nua e crua que me disseram na vida!! Desse jeito, a seco, tornou-se inesquecível!
    Crescer e ter maturidade será isso? Ter a (mal ou bem) dita consciência e exata noção de como as coisas funcionam? Da engrenagem por trás dos panos? Levar uma vida tão agitada, sempre correndo atrás da sobrevivência e do sustento do presente, na esperança de gozar um futuro tranquilo? Se ao menos conseguirmos, percebendo que é chegado o momento de desfrutá-lo, desacelerar...
    Um dos meus maiores medos, se não o maior deles, não é o de morrer, mas sim o de perceber, no fim da vida, que não fiz tudo o que podia, que não fui tudo o que era capaz. Mas, a essa altura, já percebi que tem coisas que só o passar do tempo, a dita maturidade, pode nos mostrar. Tenho certeza de que lá na frente perceberei coisas que não consigo vislumbrar agora.
    E, já que será inevitável um ou outro arrependimento, não só por algo que fiz, mas, principal e mais dolorosamente, por algo que deixei de fazer, eu pediria ao Papai Noel que me permitisse viver, nem que ao menos por um único dia, de novo naquela condição de criança. Naquela ignorância verdadeiramente inocente e abençoada.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

De repente...

    Esse fim de semana estive na comemoração do aniversário de uma amiga. Um almoço para o qual, já digo de passagem, ao meio-dia de um domingo nublado, não estava nem um pouco incitada a ir. Mas, tratando-se de uma das poucas grandes amigas que ainda tenho, não permiti que o desânimo me abatesse por mais do que alguns segundos. E assim, lá fui eu, ligada mais no piloto automático do que na diversão por vir. Admito que receava ficar isolada num cantinho onde, graças a essa minha timidez, somente a cachorrinha da anfitriã fosse capaz de me entreter.
    Mas, como as surpresas se apresentam na mesma proporção para todos, os bons e os maus, eis que começa a rolar um papo sobre música, concursos, faculdades. Começo a me soltar, obviamente respondendo perguntas que me são diretamente dirigidas, e logo estamos falando sobre filosofia, ioga, meditação e, finalmente, astrologia, assunto pelo qual me interesso e que vejo praticamente como relegado.
   Nessas horas penso que a solidão tem mil e um aspectos positivos. A mente não pára, de forma que os pensamentos estão constantemente se desenvolvendo, criando, mas até isso tem um limite. Digamos que o espaço reservado ao cambaleio dos devaneios é proporcional ao estreitamento das informações que previamente possuímos e a capacidade de cruzá-las, ainda que de forma completamente desconexa e incoerente. Acho que é isso que torna tão gratificantes e deliciosos os ditos insights, sensação que uma boa conversa com pessoas afins pode proporcionar mais intensa e rapidamente.
    Boas surpresas. Uma daquelas delícias que somente a falta de expectativa é capaz de me proporcionar.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

protesto

Poxa... Por que não colocaram o Márcio Gomes de vez no JN?
Mas também, caso o fizessem, eu não teria mais sua companhia em minhas corridas durante o Bom Dia Brasil.
E como almoçaria nos feriados, sem sua presença no RJTV?
Ai... Vou iniciar o projeto “Márcio Gomes em todos os telejornais”! 24 horas por dia! :)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

    Durante essa semana de provas me lembrei de um dia, durante a copa do ano passado, quando eu estava num bar com amigos e percebi que o cara da mesa ao lado tinha, ao lado dos copos, a Ética de Spinoza. Lembrei de como gargalhei, de forma escancarada pelo fato de alguém trazer um livro sobre ética para uma mesa de bar!! Detalhe: lembrei-me disso enquanto corria na esteira e, entre uma passada e outra, estudava sobre deus, graça, teoria da iluminação, pecado... Foi quando a ficha caiu. Hoje em dia quem anda fazendo coisas bizarras por aí sou eu. E hoje mesmo estou com a minha Ética debaixo do braço...

Ah, essa minha volubilidade...

    Como já disse a um amigo lá na faculdade: li Platão e amei. Mostram-me Aristóteles e, ainda no que for contrário ao seu mestre, provavelmente concordarei. Conheci um pouco de Kant e até Hegel, que teve meu ídolo Schopenhauer como algoz, apreciei. Leio Hobbes e admiro, ao mesmo tempo em que me encanto divinamente com Spinoza. E assim eles vão, sucessivamente criticando uns aos outros, e por todos me apaixono!
    Êta coração danado pra ser bandido!!!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Considerações de uma balzachiana do início do séc. XXI

    Tem horas que dá vontade de deixar a esperança de lado. Tomo isso como um ato plenamente volitivo, pois, a partir do momento em que tenho pleno conhecimento de sua verdadeira finalidade, não posso encará-lo de outra forma. Como disse Nietzsche, a esperança é um mal derradeiro, o pior dos males porque prolonga um sofrimento. Logo, como sou humana e reconheço certas fragilidades das quais ainda não consigo fugir, digo que tenho vontade de abandoná-la, mas não que o vá fazê-lo, pois, encarando-a como mal evitável, ao mesmo tempo a vejo como alternativa útil e justificável.
    Lembro-me da vez em que ganhei um livro de auto-ajuda para mulheres de uma amiga que comprou, de uma só tacada, cinco exemplares e distribuiu entre conhecidas. Já comentei sobre isso em um post antigo, quando ela dizia que eu deveria escrever um livro tal qual aquele, uma vez que, ao menos na visão dela, eu teria algo interessante a dizer nesse sentido. Não aceito, ao menos por enquanto, a incumbência, pois talvez minha própria experiência e condição atual, dependendo do ponto de vista, tornassem desprovido de crédito qualquer conselho meu nesse sentido.
    A essa altura, já estamos todos calejados, com nossos traumas, feridas (algumas já cicatrizadas, outras nem tanto), questões do passado mal resolvidas, preconceitos, sem muita paciência para investir, dialogar e dar chance para o novo. Julgando todos que entram na nossa vida de acordo com os machucados que já carregamos.
    O que eu diria hoje é que vejo a minha geração numa fase de transição, com ao menos três níveis de gradação, convivendo ou ao menos tentando conviver. Vejo as tresloucadas, despudoradas, as praticantes de sexo virtual, as que transam, sem peso na consciência, no primeiro encontro, as que dizem amar em poucas semanas e trocam de amor em poucos meses, as adeptas radicais desse feminismo, tal qual a entrevistada numa reportagem que li numa revista. Lá ela pregava igualdade total entre homens e mulheres, o fracasso fadado da fidelidade (detesto essa história de que somente há traição quando rola sentimento), a ideia do romantismo como algo ultrapassado... Me soa muito estranho qualquer cenário onde a feminilidade seja totalmente desconsiderada. E olha que não me considero das mais românticas, mas como negar o prazer que temos ao receber uma flor, um elogio, quando nos abrem a porta do carro, quando nos dão a preferência ou outra gentileza masculina qualquer? Tem coisas que fazem parte da natureza feminina e, ao menos por enquanto, não inventaram remédio para isso!
    Também não vejo um futuro promissor para aquelas que se encontram do outro lado da linha. Lado onde vejo as recatadas, que tem medo de conhecer gente pela internet, que sonhavam em se casar de branco na igreja, ter somente um ou poucos homens na vida, que não admitem qualquer tipo de traição (nem simples indícios), as que, de tanto esperar pelo tempo certo das coisas, quando decidem agir acabam percebendo que já é tarde demais, as que antes de se entregar querem conhecer os valores de família do outro e mostrar os seus.
    E claro, o gênero intermediário, das deslocadas, das que não são tão românticas, pois não fazem questão de ganhar um buque com uma dúzia de rosas, mas se encantam quando ganham uma solitária; não fazem questão de casar de branco na igreja, mas querem uma festa, por mais simples que seja, para celebrar o momento; não fazem questão de ganhar jóias caras, mas se chateiam se as datas especiais são esquecidas; não fazem questão de várias ligações ao longo do dia, mas dormem mais tranquilas quando ouvem a voz do companheiro antes de se deitar; as que não esperam que o casal esteja sempre grudado, pelo contrário, gostam de ter seu espaço e respeitam e incentivam o momento do outro.
    Foi nessa parte do raciocínio que me ocorreu a ideia da esperança. Que saída: juntar-me de vez às tresloucadas, tendência para qual minha personalidade, sob alguns aspectos, parece ser naturalmente inclinada ou retrair-me cada vez mais, fechando todas as portas a ponto de eliminar as boas chances que poderiam aparecer, mas preservando minha paz de espírito, direção para a qual também me vejo fortemente tendente?
    E aqui entra o lado masculino também. Como as relações estão plenamente efêmeras, fulgazes, facilitadas, os homens também estariam um pouco destituídos de algumas funções características. Mandar flores e parecer piegas ou não fazê-lo e, adotando um estilo mais descompromissado, cafajeste, agradar uma inumerável parcela do sexo oposto? Escrever um belo poema e parecer adepto do sentimentalismo barato (praticamente sem espaço hoje), ou escrever logo uma sacanagem e passar a ideia de bom pegador?
    Conheço os que estão solteiros a contragosto (o que não significa necessariamente sozinhos), simplesmente por não encontrarem alguém que faça valer a pena sair dessa condição e os que, amantes de desenfreada liberalidade feminina, caem na farra e não acreditam nem esperam algo muito diferente disso. Os que, embora conscientemente elogiem a revolução feminina, na prática não sabem lidar com nossa independência e segurança, seja financeira ou emocional (pois sim, também acho que isso lhes retirou um pouco a proeminência no jogo) e os apreciadores das sutilezas femininas, ainda que na simples delicadeza de um vestido! E assim, ao menos enquanto gênero, enxergo os homens, em sua brutalidade, na condição de opressores e, ao mesmo tempo, em sua sensibilidade, como vítimas da própria opressão.
    Acho que, desde que consciente deste ato dilacerante, ao menos por enquanto me permitirei o artifício da esperança. Primeiro porque esse meu excesso de transparência, característica facilmente notável por quem realmente me conhece, me causa, ao menos enquanto dela não tenho pleno domínio, repulsa à utilização de qualquer máscara.
    Segundo, porque acredito que haja mais pessoas perdidas por aí. Conheço e convivo com gente de todos os tipos aqui descritos. Por isso, desde que continue me permitindo conhecer pessoas (pois meu descrédito no otimismo e romantismo exagerados me bloqueia a ideia de que a sorte fará a felicidade bater a porta), acredito ainda ser possível esbarrar com semelhantes.
    Terceiro, porque hoje vejo essa questão pessoal não como um complemento para a vida, mas como um elemento agregador. Como diz aquela historinha onde chega-se a conclusão de que o melhor lugar para se esconder um tesouro seria dentro do próprio ser humano, pois é o último lugar onde procuraremos por ele. Não adianta procurar a felicidade em outro lugar que não dentro de nós, embora eu também aceite que elementos externos possam sim potencializá-la.
    Minhas decisões foram tomadas de forma consciente, embora não sem muito derramamento de lágrimas. Troquei mais de uma vez a segurança pela simples esperança, com convicção das dificuldades encontraria. Digo que, ao menos por enquanto, não sinto arrependimento de nada e fui mais longe do que pensei ser capaz.
    Talvez minha opção pela solidão já tenha sido mal interpretada. Dizer que sou feliz sozinha e, ao mesmo tempo, mais feliz ainda com uma boa companhia, pode parecer paradoxal, o que creio ter bem explicado agora. Assim, feliz já me considero. E tanto, a ponto de ver na união como casal não um complemento, precursor de dependência, mas como oportunidade de compartilhamento desse sentimento. Talvez seja um dos poucos casos onde dividir seja mais!

Fui dormir pensando que as prováveis gotas que cairiam do céu no dia seguinte seriam as lágrimas de alguém lá em cima, compartilhando de minha melancolia. Mas, num lampejo de otimismo, acordei achando melhor pensar que seriam decorrentes da limpeza do salão pra festa.

Coisas que vale o fim de semana, partes 3 e 4

    Observar o adestramento de cães; meus novos patins; o Buks e as surpresas que me reserva; conhecer e reencontrar o Michael, o Athos e seus donos; as pessoas no slackline; a pipa; o mar agitado; o canto dos pássaros; o carinho dos amigos e da família (mesmo com telefonemas que me acordaram cedo demais); os presentes (todos, mas principalmente os livros); as gargalhadas e a própria melancolia, pois acho que até nela é possível vislumbrar alguma beleza.
    Correr e andar de bicicleta na chuva, e observar como ela camufla o suor do corredor e disfarça o choro da mulher. Chegar em casa toda suja de lama... e largar a bicicleta mais suja ainda!