segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Escravidão

    Um dos vários livros que estou lendo ao mesmo tempo é de Sêneca, “Aprendendo a Viver”. Hoje me deparei com o texto “Do senhor e do Escravo”, o que me levou a pensar um pouco sobre o tema e algumas nuances que o julgo capaz de conter.
    Tomamos a ideia do escravo como aquele que é submetido por um elemento externo. Mas acho que tal submissão pode dar-se pela força física, pela opressão, pelo baixo conceito sobre si mesmo, pelos desejos desenfreados, pela ignorância, pela opinião alheia, pelos vícios, pelos costumes arraigados e inquestionadamente praticados... “Escravos somos todos, se pensares que a sorte tem igual poder sobre nós e eles (escravos)” (Sêneca).
    Acredito que o conceito de humilhação pode me ajudar a desenvolver uma ideia sobre a escravidão, a partir do momento em que a humilhação pode ser causada por uma ofensa à honra, incidindo diretamente sobre o decoro ou a dignidade. O próprio direito penal diferencia os conceitos quando tipifica autonomamente os delitos de injúria e difamação. Aquela ofende o conceito que a pessoa tem sobre si mesma, sua dignidade, aquilo a que se chama honra subjetiva. Já na difamação observa-se uma ofensa à reputação da pessoa, ao conceito que ela goza perante a sociedade. É a honra dita objetiva.
    Levando aqui em conta a humilhação que agride esta moral dita interior, a dignidade, acho que poderíamos dizer que goza da liberdade, por exemplo, aquele que não se deixa atingir pela opinião alheia, posto que tem consciência de si mesmo e de seu valor. Para chegarmos a tal ponto, porém, creio ser preciso livrarmo-nos de algumas restrições, convenções e imposições sociais cuja violação, a princípio, sugeriria exatamente o contrário do que se pretende demonstrar. “Por isso, acho cômico esses grandes homens que pensam ser humilhante jantar com o seu escravo. Por quê? Apenas em virtude de um costume arrogante, que impõe ficar o patrão, enquanto come, rodeado por uma multidão de servos em pé? E ele que come além da capacidade do seu estômago e, com grande avidez, distende o estômago já satisfeito, que já não sabe mais as suas funções, ingerindo à força e com grande esforço o excesso de comida” (Sêneca).
    Escravo pode ser, por exemplo, quem repete tudo o que ouve sem retrucar e, quando o faz, retruca com argumentos alheios, pois não tem senso crítico para criar os próprios; é quem se envergonha de agir por temer a opinião alheia; quem não volta atrás em suas decisões para não demonstrar fraqueza, ainda quando reconhecido o erro.
    Progredindo nesse tema cheguei à questão dos conselhos. Já diz o ditado que, cada cabeça, uma sentença. Cada pessoa tem uma história de vida que, assim como sua impressão digital, nunca coincidirá com a de outra. Cada um tem sua impressão vital. As nuances da vida marcam cada pessoa de uma forma exclusiva. Some-se a isso uma gama de elementos genéticos definidores dos vários tipos de personalidade e teremos um sem número de sentenças antagônicas sendo proferidas pelo mundo afora por cada um de nós, juízes de nós mesmos. Por isso, considero que os conselhos podem ser bons, mas, antes de utilizados, deveríamos analisar firmemente se o entendemos e assimilamos pois, o conselho, embora bom, pode não nos proporcionar o bem.
    Cada vez que leio Sêneca mais admiro sua obra, principalmente porque praticou o que pregou, haja vista a história de sua morte, onde fora condenado ao suicídio e, por formas mais que dolorosas, executou-a de acordo com sua filosofia estóica, fato que, creio eu, lhe confere muita credibilidade. Uma coisa é a palavra escrita, posta no papel de forma de ideia, simples e abstrata. Outra é aplicá-la no cotidiano. Já li em algum lugar que a realidade não é párea para a imaginação. Que nos digam todos os anos novos passados, incapazes de suportar todas nossas resoluções. Algumas ideias antes de serem postas em prática necessitam de um período de amadurecimento, sedimentação. Alie-se a isso um pouco de vigilância e determinação, já que o tempo passa e, sob alguns aspectos, ele não tem a vida toda para nos esperar. “Não quero tomar mais teu tempo: de fato, não precisas de exortação. Os bons costumes, entre outras coisas, tem como característica isto: agradam a si mesmos e permanecem. A malícia é inconstante, muda frequentemente, e não para o melhor, mas para outra coisa. Passa bem.” (Sêneca).

Gente, desculpe o monte de ideias que até podem parecer desconexas, mas retratam o modo em que se encontram na minha cabeça agora. Trate não como um primado pela técnica, mas como um desabafo.
J




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