segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A cidade do Rio

   Há cerca de três semanas foi veiculada uma pesquisa que retratava o alto índice de orgulho dos cariocas em relação ao Rio, apesar da violência e demais mazelas. Não tardou surgirem cartas publicadas por leitores e comentários na internet criticando a pesquisa, depreciações à cidade e aos cariocas que se diziam satisfeitos. Todos ali eram praticamente unanimidades no assunto e facilmente capazes de expor todos os defeitos e inconvenientes do Rio.
   Eu sou suspeita para falar, porque, apesar dos pontos negativos, sou apaixonada pela cidade. Podem falar da violência, da sujeira, da bagunça, do trânsito caótico, da corrupção, mas falem com alguma propriedade e com argumentos mais sólidos do que o simples achismo e gosto pessoal. Não conheço muita coisa por aí, mas já viajei o suficiente para poder fazer minhas próprias ilações e conclusões sobre alguns pontos.
   O Rio é violento. Vamos lá: enquanto estive em Paris, em dezembro de 2010, conversei com uma parisiense no Louvre e perguntei sobre a violência na cidade. Disse ela que uma coisa é o centro turístico de Paris, outra eram seus arredores. Saindo um pouco do centro, é possível que voltasse sem a bolsa. Perguntei até como se dava a mecânica da coisa. De repente um empurrão e levam sua bolsa, respondeu-me ela.
   Sujeira espalhada pela cidade. Em Washington, perguntei como era o entorno da capital e responderam que o ônibus tinha o trajeto rigorosamente traçado para que não víssemos a sujeira e a população de rua. Aliás, este deve ser outro ponto presente em quase todas as cidades turísticas.
   Trânsito caótico: por dia eu contava em Paris mais de 10 carros batidos, estacionados nas ruas. Tenho testemunha.
   Desordem e falta de sinalização. Em Roma senti na pele a veracidade do ditado que diz quem tem boca vai a Roma*. Certa hora desisti de procurar/seguir placas/setas/mapas e me convenci de que só chegaria ao destino desejado pedindo informações às pessoas nas ruas. Placa, sinalização e direção praticamente não existem e, quando existem, na maior parte das vezes são contraditórias. Tenho certeza de que dei várias voltas inúteis e perdi um bom tempo pela cidade! Cheguei a brincar com minha amiga dizendo que eu, que considerava o Rio despreparado para receber os próximos eventos esportivos, estava ali revendo minha opinião. O metrô era um canteiro de obras, escadas rolantes fora de funcionamento... Para turistas com malas pesadas, foi uma recepção, digamos, nada agradável.
   Corrupção, desemprego, falta de ética? É só ler os noticiários para vermos que estão por toda parte.
   Podem falar o que quiserem. Ofereçam-me trocar o Rio por Paris, ou até por Dubai que roubou uma parte do meu coração: a maior parte dele ainda preferiria ficar aqui.
   Não estou dizendo que devemos nos acomodar com o que está ruim na cidade, e sei que não é pouca coisa. Querem criticar, ok, mas coloquem a culpa nos verdadeiros culpados: nos cariocas mal educados, nos políticos corruptos, na administração ineficiente, e até em nós mesmos que nada ou quase nada fazemos para mudar a situação, mas não digam que a cidade não é maravilhosa. Pessoas boas e ruins, honestas e desonestas, política boa e má, ordem e desordem, lugares mais ou menos nobres estão por toda parte do planeta. Até a Noruega virou notícia.
   Vá caminhar na Lagoa, pedalar pela orla, tirar fotos no Cristo. Tome um coco na praia cedinho antes do trabalho, ouvindo o quebra-mar, ou passe pelo aterro ao anoitecer depois dele, com o Cristo ao fundo a iluminar-se (principalmente com as luzes desta época). Talvez voltemos um pouquinho menos estressados.

* Permito-me aqui, para fins de contextualização, adotar o enunciado vulgar, embora saiba que o verdadeiro seria “quem tem boca vaia Roma”.

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