segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Me alimento de devaneios...

    Num desses meus dias de folga, um daqueles que faz os críticos do funcionalismo público me odiar, assisti (na verdade, não pela primeira vez, mas minha fraca memória permite o ineditismo) a um filme de sessão da tarde. Um daqueles que remetem à infância, admitam: Mudança de hábito.
    Achei tão engraçado quando, percebendo que a revolução que causara no coral da igreja trouxe novos fiéis, atraídos pela música animada e coreografia meio que desengonçada, rebateu as críticas dos religiosos conservadores dizendo que as pessoas não iam à igreja porque achavam chato!
    Algum tempo depois me peguei pensando no texto que precisava ler para entregar meu trabalho: Crítica da faculdade do juízo, de Kant. Nunca tinha conseguido entender Kant sozinha. Costumo brincar que ele devia dizer ao elaborar cada parágrafo: “Esse é pra ninguém entender! Hoje vou escrever difícil!”. Parágrafos de dez linhas, sem um ponto final! Sinistro!
    Bom, voltando ao assunto, lá estava eu pensando no tal sujeito transcendental kantiano. Seu imperativo categórico "Age como se a máxima de tua ação pudesse tornar-se lei universal da natureza", sua idéia fixa de moral universal e, no que me tocava especificamente, seu conceito de universalidade no entendimento do belo. Como assim? Se uma coisa é considerada bela, haverá uma pretensão de que seja entendida como tal pelos demais. O reconhecimento da beleza gera uma expectativa de universalização do belo. Kant não admitiria um concurso de beleza, com gradações? Pois, pelo que entendi, a beleza de um objeto exclui a dos demais que lhe são similares.
    Foi aí que fiz uma relação, meio nada a ver, bem característica desses meus pensamentos que vagueiam livremente, sem conexão, mas que, ao final, dão uma idéia interessante. Esse tal sujeito transcendental, perfeitamente racional, moralizado e padronizado me lembrou esses preceitos religiosos de perfeição de conduta, ações regradas, ilibadas, com preocupação e vigilância eternas para não sair da linha, sob pena de castigo, penitência. Acho que foi por isso que sempre achei Kant chato, tal qual a igreja do filme, com esses imperativos distantes da realidade humana, desprezando as diferenças e a falibilidade a que todos sempre estamos sujeitos, inevitavelmente. Ditames para robôs e não para seres humanos.
    No fim, essa maluquice toda é para dizer que não peço que concordem ou discordem de mim; tudo que lhes peço é um tema.

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