terça-feira, 29 de novembro de 2011

Menos um

    Lá estava eu, na minha aula de filosofia medieval, ouvindo sobre Santo Agostinho, quando o professor começou a falar sobre a tal acrasia. Algo sobre não ter domínio de si próprio, ausência de auto-controle, e que nos levaria a questionar por que, em determinadas situações, mesmo sabendo o que é melhor para nós, agimos de forma diferente. Fraqueza da vontade. Foi nessa hora que comentei com o colega ao lado que o nosso outro colega, que dormia bem a nossa frente, era um exemplo vivo e presente da acrasia: ele queria assistir a aula, prestar atenção, mas acabou se rendendo ao sono; sucumbiu à fraqueza da carne e dormiu! Acontece, respondeu-me ele, que nosso amiguinho tem passado as noites em uma ocupação que está rolando desde outubro lá na Cinelândia.
    Dei uma pesquisada aqui na internet e vi que se trata de um movimento dito “dos indignados”, no estilo do que ocorreu em Nova Iorque, formado por estudantes e simpatizantes de causas sociais, não só do Rio, mas também de outros Estados. Formado por diferentes estilos, o movimento congrega indignados com a situação política, com questões ambientais, com a violência e até especificamente contra a criação usina de Belo Monte.
    Eu já escrevi em um post anterior que adoro quando tenho preconceitos quebrados, não? Eu, que costumo me vangloriar de não faltar a nenhuma aula, mesmo não precisando, em tese, deste diploma para mais nada e que nunca entendi como a galera nova, que tem aquela como primeira faculdade, pode se ausentar tanto. Pois, tal qual já me disseram por lá, para que tanto empenho e preocupação se já sou formada? Mas não adianta; se me proponho a fazer, vou fazer o melhor que posso (o que não quer dizer o melhor que gostaria).
    Percebi que, no fundo, enquanto estou ali, marcando presença e fazendo algo que somente beneficia a mim mesma, alguns faltantes ou dorminhocos talvez estejam, ao menos em tese, fazendo algum bem para além de si mesmos, ou seja, mais do que eu.
    O que importa com tudo isso é dizer que, ao menos com esses tapinhas me sinto bem, pois eles me fazem repensar algumas coisas e, já que estávamos em uma aula sobre filosofia cristã, posso dizer que é o único tapa para o qual ofereço, de bom grado, a outra face. Surpreendam-me mais!

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