segunda-feira, 13 de agosto de 2012

de 1 mês atrás...

    Não é por preguiça que tenho deixado esse blog abandonado. É como se estivesse mais sedenta por ler do que por escrever. Mas, como escreveu meu querido Schopenhauer, ler de forma compulsiva, sem praticamente parar para pensar no que se lê, também não é tão produtivo quanto parece.
    Um dos livros que li recentemente e sobre o qual pensei em escrever algo foi O culto da emoção, de Michel Lacroix. O autor fala sobre o que seria uma nova ramificação da espécie humana, que ele chama de homo sentiens, derivação do homo sapiens. O homem atual estaria sempre em busca de novas emoções, fortes, incessantes, adrenalina full time. Isso poderia ser visto como uma exigência da própria sociedade, sempre demandando e proporcionando as ditas “emoções-choque”, para que nos sintamos vivos, impulsionados. O fator negativo deste comportamento seria o fato de, nessa ânsia, não selecionarmos de forma sadia a fonte dessas emoções. Logo, sentimos mais, mas nos emocionamos menos. Sempre submetidos a emoções súbitas e impetuosas, deixamos de lado elementos capazes de proporcionar emoções leves, sadias e, portanto, gerar sentimentos mais duradouros.
    Da primeira vez que tentei ler este livro, acabei abandonando-o no meio, talvez por não concordar com o que estava lendo, talvez por tê-lo achado de difícil compreensão textual mesmo. Na segunda tentativa, porém, li de uma tacada só, num final de semana. Percebi que da primeira vez eu é que não estava preparada para ele. O livro tem sua beleza.
    Outro livro que eu estava lendo concomitantemente talvez tenha ajudado a me abrir os olhos para o tema. Pode parecer besteira, mas é um livro sobre Ioga para nervosos. O autor fala sobre apurarmos nossas emoções, selecionando e refinando o material com que nos deparamos, pois eles serão responsáveis, ainda que inconscientemente, pelo tipo de pessoa que nos tornaremos. A princípio, também li sem muita fé no conteúdo, mas, parando pra analisar melhor, encontrei também ali alguma beleza. Atualmente, uma das coisas mais fáceis é sairmos estressados/nervosos/decepcionados de casa. Pra mim, é só ligar o noticiário, algo que, admito, apesar da negatividade que me passa, ainda não consegui deixar de fazer. É uma notícia ruim atrás da outra. O nível de indignação vai aumentando a cada informação. E a capacidade de complacência também. Será que isso não vai nos deixando mais insensíveis a cada dia?
    Quem se sente realmente indignado com as sucessivas doses de corrupção noticiadas? Indignado a ponto de tomar alguma atitude, iniciar algum abaixo assinado, uma passeata ou qualquer manifestação? E a violência? Bebês queimados, hospitais inchados, cancelas de estacionamento em mau estado de conservação que desabam sobre crianças, candidatos a cargos políticos, já condenados, relacionados com milícias. Sinceramente, não partilho da crítica comum de que o brasileiro tem memória curta e, portanto, tem o governo que merece. O cara passa o dia todo trabalhando, preocupado com contas pra pagar, pegando ônibus lotado, criança na escola, preocupado em ter o que comer, vai ficar se preocupando com política? Conseqüências de um sistema que, por deficiências da educação brasileira, o cara acha que só vai influenciá-lo de uma maneira muito indireta (isso para os que conseguem encontrar alguma relação).
    Bom, voltando ao assunto, o livro de ioga fala que, para diminuirmos nossa ansiedade, devemos regar nossa alma com poemas, livros e filmes leves. Achei bem congruente com o livro sobre o culto da emoção, pois este também diz algo sobre refinarmos nossa capacidade de sentir com mais emoções-sentimento, poesia. Assim como somos afetados por coisas ruins, também o seremos por coisas boas. Por que então não nos submetermos mais a poesias, bons livros e filmes? Não é notório como nos sentimentos bem, tranquilos, embalados quando ouvimos uma boa música, por exemplo? Uma poesia, uma paisagem, atividades recreativas, meditação?
    Talvez um dos motivos que tenham, finalmente, me levado a escrever essas minhas antigas idéias seja o filme que assisti ontem e no qual ainda estou pensando. Um dos clássicos que ainda não conhecia: Sociedade dos Poetas Mortos. Admito que o filme me arrancou umas 2 ou 3 lágrimas. As pessoas gostam e precisam se sentir úteis, relevantes. E a ideologia a qual seremos submetidas depende um pouco da sorte e um pouco daquilo com que alimentamos nossa alma, afinal, o homem é um produto do meio. No caso do filme, o alimento me pareceu bom. Literatura, poesia, filosofia, sonhos. Não sou radical; gosto de ver um filme de ação, de terror, drama, ainda que a repercussão, seja choque, tristeza ou melancolia, dure algum tempo ainda depois do término da sessão. Então, não custa contrabalancear. Chegando em casa leio as Confissões (Rousseau) e fica tudo no caminho certo.

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