Dia desses, estava eu a caminho
do hospital para fazer um exame quando, no meio de um engarrafamento que me
tomaria pelo menos 1 hora, uma senhora, idosa mesmo, afina o gogó e começa a
cantar. Sabe aquele estilo de música anos 50 que as senhorinhas adoram? Então.
Todos começaram a olhar de rabo de olho; um cara em particular tirou os fones
da orelha e ficou olhando pra trás. Outros, curiosos, tão logo satisfeitos
viraram a cara. Eu, de pé ao lado do banco dela, não pude deixar escapar um
risinho. Tão logo acabou o repertório, ela, que a princípio estava com os olhos
vidrados na janela, olhou em volta pra todos os passageiros que estavam por
perto. Como eu queria ser assim, despudorada, cantar quando desse na telha,
dançar sempre que tivesse vontade e dane-se a opinião alheia. Mas esse tipo de
atitude não é pra mim. Até o risinho tentei esconder.
Daí, durante a cantoria, comecei
a pensar porque ela estaria cantando daquele jeito. Será que ela foi uma
cantora de cabaré ou algum bar, uma mulher bem bonita e interessante na época
dela e de repente sentia saudades daquilo tudo? Será que foi alguma cantora
famosa que, com aquele olhar indagador, esperava o reconhecimento alheio? Ah,
sim, ela tinha uma voz bonita. Será que estava a espera de algum caça talentos
que reconhecesse seu dom a essa altura da vida e lhe desse uma chance? Talvez
só a maturidade tivesse levado sua timidez embora.
A partir daí a viagem evoluiu e
comecei a filosofar sobre o que as outras pessoas pensaram daquilo. Pensaram
alguma coisa? Gostaram ou se incomodaram? Pensei que para a maioria das
pessoas, em seus compromissos, preocupações e atrasos, aquilo não tivesse
tocado de forma nenhuma. Então pensei nas pessoas internadas em algum hospital,
idosos abandonados, gente doente ou sozinha de qualquer forma. Acho que pra
elas a cantoria poderia ter sido uma alegria bem interessante. Talvez a única
alegria de um dia inteiro. Exagerei? Bom, eu fiquei surpresa e gostei.
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