sábado, 11 de agosto de 2012

O barulho do engarrafamento

É. Preciso que concordar que algumas coisas ruins também tem seu lado bom. Ainda não cheguei ao ponto de virar uma otimista, aquele tipo de pessoa que faz de um limão uma limonada (e que, à vezes, invejo), mas digamos que às vezes consigo advogar a causa alheia.

Dia desses, estava eu a caminho do hospital para fazer um exame quando, no meio de um engarrafamento que me tomaria pelo menos 1 hora, uma senhora, idosa mesmo, afina o gogó e começa a cantar. Sabe aquele estilo de música anos 50 que as senhorinhas adoram? Então. Todos começaram a olhar de rabo de olho; um cara em particular tirou os fones da orelha e ficou olhando pra trás. Outros, curiosos, tão logo satisfeitos viraram a cara. Eu, de pé ao lado do banco dela, não pude deixar escapar um risinho. Tão logo acabou o repertório, ela, que a princípio estava com os olhos vidrados na janela, olhou em volta pra todos os passageiros que estavam por perto. Como eu queria ser assim, despudorada, cantar quando desse na telha, dançar sempre que tivesse vontade e dane-se a opinião alheia. Mas esse tipo de atitude não é pra mim. Até o risinho tentei esconder.

Daí, durante a cantoria, comecei a pensar porque ela estaria cantando daquele jeito. Será que ela foi uma cantora de cabaré ou algum bar, uma mulher bem bonita e interessante na época dela e de repente sentia saudades daquilo tudo? Será que foi alguma cantora famosa que, com aquele olhar indagador, esperava o reconhecimento alheio? Ah, sim, ela tinha uma voz bonita. Será que estava a espera de algum caça talentos que reconhecesse seu dom a essa altura da vida e lhe desse uma chance? Talvez só a maturidade tivesse levado sua timidez embora.

A partir daí a viagem evoluiu e comecei a filosofar sobre o que as outras pessoas pensaram daquilo. Pensaram alguma coisa? Gostaram ou se incomodaram? Pensei que para a maioria das pessoas, em seus compromissos, preocupações e atrasos, aquilo não tivesse tocado de forma nenhuma. Então pensei nas pessoas internadas em algum hospital, idosos abandonados, gente doente ou sozinha de qualquer forma. Acho que pra elas a cantoria poderia ter sido uma alegria bem interessante. Talvez a única alegria de um dia inteiro. Exagerei? Bom, eu fiquei surpresa e gostei.


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