segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Coragem

    Eu demorei anos para começar a freqüentar uma escola de dança. Tinha receio de aparecer no meio de um monte de experts, de ser desengonçada, de fazer feio. Um dia, finalmente, tomei coragem e fiz uma aula experimental. Foi amor a primeira vista! No final da primeira aula me peguei pensando que essa felicidade estava o tempo todo ali, ao meu alcance, pertinho... Quanto tempo eu tinha perdido!
    A mesma coisa aconteceu no curso de filosofia. Medo de parecer deslocada em meio a um monte de intelectuais, sem muito a acrescentar. Até que, um dia, simplesmente apareci. E voltei da primeira aula com os olhos marejados e um sorriso no rosto. Tinha encontrado mais um cantinho pra me encaixar!
    Às vezes fico pensando até que ponto nossa felicidade depende do acaso, das oportunidades que surgem e/ou das que criamos.

Viva quem tem coragem de mudar de profissão;
Quem larga uma faculdade no meio para começar outra com a qual se identifica mais;
Quem deixa um emprego por outro onde estará mais realizado;
Quem tem coragem de arriscar.

Viva quem tem coragem de dançar na rua com seu mp3;
Quem canta as músicas que conhece e, as que não conhece, embroma;
Quem reconhece a beleza numa simples paisagem;
Quem se deslumbra com a natureza.

Viva quem fala em público, quem lê, quem escreve;
Quem tem coragem de expor suas idéias;
Quem julga não só o que vê, mas também a própria visão;
Quem consegue se livrar de preconceitos.

Viva quem não se contenta com a explicação mais simples;
Quem investiga;
Quem arrisca em nome da ciência;
Quem faz algo pela evolução da sociedade.

Viva quem termina uma relação qualquer para ser mais feliz em outra;
Quem prefere o risco da felicidade ao medo da solidão;
Quem dá um tempo para si mesmo;
Quem não deixa passar as oportunidades que a vida apresenta. E cria as demais.

    Isso pode soar como lição de moral, mas não é. Para isso, vou reproduzir um trecho do Discurso do Método, de Descartes, que é um dos meus favoritos:
Inexiste no mundo coisa mais bem distribuída que o bom senso, visto que cada indivíduo acredita ser tão bem provido dele que mesmo os mais difíceis de satisfazer em qualquer outro aspecto não costumam desejar possuí-lo mais do que já possuem. E é improvável que todos se enganem a esse respeito; mas isso é antes uma prova de que o poder de julgar de forma correta e discernir entre o verdadeiro e o falso, que é justamente o que é denominado bom senso ou razão, é igual em todos os homens; e, assim sendo, de que a diversidade de nossas opiniões não se origina do fato de serem alguns mais racionais que outros, mas apenas de dirigirmos nossos pensamentos por caminhos diferentes e não considerarmos as mesmas coisas.”
    Viva quem consegue expressar com clareza, em simples palavras, seus pensamentos mais profundos! Com essa idéia de bom senso e/ou razão, vou analisar a questão da coragem sob outro ponto de vista.
    Talvez corajoso seja aquele que dirige alcoolizado, na certeza de que nada de ruim vai acontecer;
O político que consegue dormir tranqüilo depois de roubar o dinheiro do hospital;
Quem pratica um crime na certeza da impunidade;
Corajoso é quem não se arrisca na vida porque prefere o ruim conhecido ao risco do fracasso (que pode ser, na mesma proporção, o da felicidade);
    Se essa for a verdadeira razão, então meu bom senso me diz que mais vale um covarde vivo do que um herói morto. Morto para a vida.

Oração da sabedoria:
Deus, conceda-me serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar;
Coragem para mudar as que eu posso;
E sabedoria para perceber a diferença.







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