sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Realização Pessoal

    Hoje pela manhã assisti a duas reportagens interessantes. A primeira sobre a perturbação gerada pelo uso desenfreado do celular. O toque a todo momento, conversas em viva-voz, as intimidades reveladas sem pudor, a solidão que se sente quando, embora rodeado de pessoas, temos a companhia roubada pelo toque do celular alheio.
    Tem gente que diz não conseguir viver sem o celular. Por outro lado, em alguns lugares fechados já se proibiu o seu uso. Quem quiser utilizar o aparelho deve sair do recinto e “se juntar aos indesejados fumantes”, diz o repórter. Gostei da correlação.
    Outra reportagem foi sobre Cingapura. Como o país se tornou, em pouco tempo, reduto do maior número de milionários por metro quadrado. Símbolo de riqueza e dos que estão em busca dela. Não se vê pobreza. Construções grandiosas, imponentes, modernas, deslumbrantes, possibilidades de crescimento. Material. Para onde se olha, arranha-céus, concreto, luxo, conversíveis, brilho. Gente realizada? A seu modo, creio que sim.
    Estou lendo “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres”, de Clarisse Lispector. Trata da busca de uma mulher pela natureza humana e pelo autoconhecimento. Vou reproduzir algumas das passagens mais interessantes que li, até agora:
“.Ela quis retroceder. Mas sentia que era tarde demais: uma vez dado o primeiro passo este era irreversível; e empurrava-a para mais, mais e mais! O que quero, meu Deus. É que ela queria tudo.
. E o que o ser humano mais aspira é tornar-se humano.
. O cão livre hesitava na praia, o cão negro. Por que é que um cão é tão livre? Porque ele é o mistério vivo que não se indaga. A mulher hesita porque vai entrar.
. Viu dois homens que tinham sido seus amantes; falaram-se palavras vãs. E viu com dor que não os desejava mais. Preferiria sofrer por amor do que sentir-se indiferente.
. Porque no Impossível é que está a realidade.
. Agora é que ela notava tudo isso. Era uma iniciada no mundo.”
(Clarisse Lispector, Uma aprendizagem ou o mundo dos prazeres)
    Eu tenho que admitir que tenho uma inveja, saudável, daqueles filósofos que podiam se refugiar no alto de uma colina, apreciar a natureza, pensar, desenvolver e escrever. Ou daqueles que podem se dar ao luxo de viajar pelo mundo e descobrir a vida do melhor modo que se pode fazê-lo: vivendo.
    Quanto à tecnologia, novamente, não tenho nada contra. Até porque seria uma briga perdida, inútil. Não tenho MSN, facebook, nextel, amigos virtuais. Não sei baixar música na internet, nem copiar um DVD. Não quero todo o dinheiro do mundo, nem glamour, nem poder. Mas o contato com a natureza, o pensamento, a criatividade, a sensibilidade, conhecer seres humanos mais humanos, no sentido mais natural do termo, isso sim me enche os olhos. E a alma.
Em 18.10.2010



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