sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O sol

    Já escrevi e postei fotos do pôr-do-sol. Agora tirei fotos do nascer do sol. Algumas daquelas imagens que valem mais do que mil palavras.
    Nenhuma lente de câmera, porém, vai conseguir reproduzir, de forma fidedigna, um momento como este. Talvez porque não o observemos somente com os olhos, mas também com o olfato, o tato, a audição e o coração.
    Mar, sol, maresia, areia, calor, bater das ondas.




    Enquanto escrevia esse post, me lembrei de um capítulo sobre o mar naquele livro da Clarisse, que já mencionei aqui. Fui relê-lo e percebi que ela conseguiu, não sei se de forma propositada ou não, relatar o contato com o mar através dos cinco sentidos.

“Aí estava o mar, a mais ininteligível das existências não humanas. E ali estava a mulher, de pé, o mais ininteligível dos seres vivos. Como o ser humano fizera um dia uma pergunta sobre si mesmo, tornara-se o mais ininteligível dos seres onde circulava o sangue. Ela e o mar.
(...)
Vai entrando. A água salgadíssima é de um frio que lhe arrepia e agride em ritual as pernas. Mas uma alegre fatalidade – a alegria é uma fatalidade – já a tomou, embora nem lhe ocorra sorrir. Pelo contrário, está muito séria. O cheiro é de uma maresia tonteante que a desperta de seu mais adormecido sono secular.
(...)
Com a concha das mãos e com altivez dos que nunca darão explicação nem a eles mesmos: com a concha das mãos cheias de água, bebe-a em goles grandes, bons para a saúde de um corpo! E era isso o que estava lhe faltando: o mar por dentro, como o líquido espesso de um homem.
Agora ela está toda igual a si mesma. A garganta alimentada se constringe pelo sal, os olhos avermelham-se pelo sal que seca, as ondas lhe batem e voltam a lhe bater. Voltam pois ela é um anteparo compacto.”
(Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, Clarisse Lispector)

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