segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Natal de 2011

    Como é fato que sou adepta de um estilo nostálgico, resolvi tentar escrever sobre algumas lembranças que costumam advir nessa época do ano. Foi bom recordar algumas coisas da infância, embora não sem grande esforço de memória, devido ao mal que padeço nesse quesito. Pena que, graças a essa minha deficiência, com certeza muitas coisas legais restarão perdidas.
    Lembro-me de ficar deitada no chão, sentada nos degraus de casa, contando os pássaros em revoada, e que chegavam as centenas... Nunca mais passaram voando sobre mim ou sou eu quem não teve tempo de, sempre avoada, parar para observá-los?
    Lembro de fazer sorvete, sacolé. De pular elástico, andar de patins agarrada no para-choque dos carros, de subir em árvores e o medo que precedia tal peripécia. De correr, pular, cair, machucar os joelhos sempre no mesmo lugar, enquanto as feridas anteriores nem estavam ainda devidamente saradas. Tempo em que não me importava com cicatrizes. Quando nem imaginava o que eram marcas de estrias ou de rugas.
    Lembro de, em minha ultra inocência, trocar dez papéis de carta por um (isso quando ele não vinha com envelope, hipótese em que me desfavorecia de onze!), e de dar dez bolinhas de gude em troca de uma, só por ser esta um pouco maior do que as minhas! Perdemos todos a inocência e estou certa de desconfiar até mesmo de toda e qualquer promoção simplesmente por ser boa e fácil demais?
    Lembro do dia de brincadeiras onde deixei que me pintassem e vestissem de noiva (pelo menos, resta o consolo de que, ao menos uma vez na vida, tive a experiência). Época em que, ausente essa timidez que hoje não me permite grandes exuberâncias, andava pelas ruas fantasiada em meu vestido verde e no salto alto da vovó. Onde está aquela coragem que me fazia uma criança despudorada, que se fantasiava de odalisca e fadinha, e que se tornou uma adulta que, com alguma frequencia, gostaria de andar vestida sob uma capa de invisibilidade?
    Saudades da época em que o castigo era não poder sair para brincar e nos divertir desvairadamente, enquanto hoje vivemos reclamando de quem nos tira do sério.
    Digam-me que não eu era a única a ouvir o mesmo CD (e fitas K-7, ok) dezenas de vezes, acompanhando o encarte com as letras e de se imaginar cantando e dançando desenvoltamente no meio da multidão? Escrevo isso ao mesmo tempo em que olho para a estante bem aqui atrás, ainda com CDs intactos, comprados há pelo menos dois anos.
    Lembro do quanto esbravejava por ter que atender o telefone. Agora, não me imagino sem celular. Tempo, aliás, em que trote era simplesmente ouvir a voz da pessoa do outro lado da linha dizendo alô em vão, enquanto agora reputamos qualquer ligação estranha como precursora de algum falso sequestro.
    Lembro como se fosse ontem dos olhos inchados por ser obrigada a sair de casa para comprar sapatos. Quem imaginaria a centopeia em que me transmutaria, não?
    Todas essas lembranças trazidas a tona nessa época do ano, quando sempre me recordo de como descobri que Papai Noel não existia. Lá estava eu esperando por ele. Olhos fixos no céu do quintal de minha casa. Passava da meia noite e nada! Obviamente não entendia nada de trânsito, ainda mais o aéreo, mas, com certeza, a hipótese de atraso estava completamente descartada, de modo que imediatamente esbravejei que ele não existia. Na esperança de algum consolo, eis que me dizem simplesmente: “Tá bom. Ele não existe mesmo. Mas não conta nada pra sua irmã, tá?” Foi a primeira verdade nua e crua que me disseram na vida!! Desse jeito, a seco, tornou-se inesquecível!
    Crescer e ter maturidade será isso? Ter a (mal ou bem) dita consciência e exata noção de como as coisas funcionam? Da engrenagem por trás dos panos? Levar uma vida tão agitada, sempre correndo atrás da sobrevivência e do sustento do presente, na esperança de gozar um futuro tranquilo? Se ao menos conseguirmos, percebendo que é chegado o momento de desfrutá-lo, desacelerar...
    Um dos meus maiores medos, se não o maior deles, não é o de morrer, mas sim o de perceber, no fim da vida, que não fiz tudo o que podia, que não fui tudo o que era capaz. Mas, a essa altura, já percebi que tem coisas que só o passar do tempo, a dita maturidade, pode nos mostrar. Tenho certeza de que lá na frente perceberei coisas que não consigo vislumbrar agora.
    E, já que será inevitável um ou outro arrependimento, não só por algo que fiz, mas, principal e mais dolorosamente, por algo que deixei de fazer, eu pediria ao Papai Noel que me permitisse viver, nem que ao menos por um único dia, de novo naquela condição de criança. Naquela ignorância verdadeiramente inocente e abençoada.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

De repente...

    Esse fim de semana estive na comemoração do aniversário de uma amiga. Um almoço para o qual, já digo de passagem, ao meio-dia de um domingo nublado, não estava nem um pouco incitada a ir. Mas, tratando-se de uma das poucas grandes amigas que ainda tenho, não permiti que o desânimo me abatesse por mais do que alguns segundos. E assim, lá fui eu, ligada mais no piloto automático do que na diversão por vir. Admito que receava ficar isolada num cantinho onde, graças a essa minha timidez, somente a cachorrinha da anfitriã fosse capaz de me entreter.
    Mas, como as surpresas se apresentam na mesma proporção para todos, os bons e os maus, eis que começa a rolar um papo sobre música, concursos, faculdades. Começo a me soltar, obviamente respondendo perguntas que me são diretamente dirigidas, e logo estamos falando sobre filosofia, ioga, meditação e, finalmente, astrologia, assunto pelo qual me interesso e que vejo praticamente como relegado.
   Nessas horas penso que a solidão tem mil e um aspectos positivos. A mente não pára, de forma que os pensamentos estão constantemente se desenvolvendo, criando, mas até isso tem um limite. Digamos que o espaço reservado ao cambaleio dos devaneios é proporcional ao estreitamento das informações que previamente possuímos e a capacidade de cruzá-las, ainda que de forma completamente desconexa e incoerente. Acho que é isso que torna tão gratificantes e deliciosos os ditos insights, sensação que uma boa conversa com pessoas afins pode proporcionar mais intensa e rapidamente.
    Boas surpresas. Uma daquelas delícias que somente a falta de expectativa é capaz de me proporcionar.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

protesto

Poxa... Por que não colocaram o Márcio Gomes de vez no JN?
Mas também, caso o fizessem, eu não teria mais sua companhia em minhas corridas durante o Bom Dia Brasil.
E como almoçaria nos feriados, sem sua presença no RJTV?
Ai... Vou iniciar o projeto “Márcio Gomes em todos os telejornais”! 24 horas por dia! :)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

    Durante essa semana de provas me lembrei de um dia, durante a copa do ano passado, quando eu estava num bar com amigos e percebi que o cara da mesa ao lado tinha, ao lado dos copos, a Ética de Spinoza. Lembrei de como gargalhei, de forma escancarada pelo fato de alguém trazer um livro sobre ética para uma mesa de bar!! Detalhe: lembrei-me disso enquanto corria na esteira e, entre uma passada e outra, estudava sobre deus, graça, teoria da iluminação, pecado... Foi quando a ficha caiu. Hoje em dia quem anda fazendo coisas bizarras por aí sou eu. E hoje mesmo estou com a minha Ética debaixo do braço...

Ah, essa minha volubilidade...

    Como já disse a um amigo lá na faculdade: li Platão e amei. Mostram-me Aristóteles e, ainda no que for contrário ao seu mestre, provavelmente concordarei. Conheci um pouco de Kant e até Hegel, que teve meu ídolo Schopenhauer como algoz, apreciei. Leio Hobbes e admiro, ao mesmo tempo em que me encanto divinamente com Spinoza. E assim eles vão, sucessivamente criticando uns aos outros, e por todos me apaixono!
    Êta coração danado pra ser bandido!!!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Considerações de uma balzachiana do início do séc. XXI

    Tem horas que dá vontade de deixar a esperança de lado. Tomo isso como um ato plenamente volitivo, pois, a partir do momento em que tenho pleno conhecimento de sua verdadeira finalidade, não posso encará-lo de outra forma. Como disse Nietzsche, a esperança é um mal derradeiro, o pior dos males porque prolonga um sofrimento. Logo, como sou humana e reconheço certas fragilidades das quais ainda não consigo fugir, digo que tenho vontade de abandoná-la, mas não que o vá fazê-lo, pois, encarando-a como mal evitável, ao mesmo tempo a vejo como alternativa útil e justificável.
    Lembro-me da vez em que ganhei um livro de auto-ajuda para mulheres de uma amiga que comprou, de uma só tacada, cinco exemplares e distribuiu entre conhecidas. Já comentei sobre isso em um post antigo, quando ela dizia que eu deveria escrever um livro tal qual aquele, uma vez que, ao menos na visão dela, eu teria algo interessante a dizer nesse sentido. Não aceito, ao menos por enquanto, a incumbência, pois talvez minha própria experiência e condição atual, dependendo do ponto de vista, tornassem desprovido de crédito qualquer conselho meu nesse sentido.
    A essa altura, já estamos todos calejados, com nossos traumas, feridas (algumas já cicatrizadas, outras nem tanto), questões do passado mal resolvidas, preconceitos, sem muita paciência para investir, dialogar e dar chance para o novo. Julgando todos que entram na nossa vida de acordo com os machucados que já carregamos.
    O que eu diria hoje é que vejo a minha geração numa fase de transição, com ao menos três níveis de gradação, convivendo ou ao menos tentando conviver. Vejo as tresloucadas, despudoradas, as praticantes de sexo virtual, as que transam, sem peso na consciência, no primeiro encontro, as que dizem amar em poucas semanas e trocam de amor em poucos meses, as adeptas radicais desse feminismo, tal qual a entrevistada numa reportagem que li numa revista. Lá ela pregava igualdade total entre homens e mulheres, o fracasso fadado da fidelidade (detesto essa história de que somente há traição quando rola sentimento), a ideia do romantismo como algo ultrapassado... Me soa muito estranho qualquer cenário onde a feminilidade seja totalmente desconsiderada. E olha que não me considero das mais românticas, mas como negar o prazer que temos ao receber uma flor, um elogio, quando nos abrem a porta do carro, quando nos dão a preferência ou outra gentileza masculina qualquer? Tem coisas que fazem parte da natureza feminina e, ao menos por enquanto, não inventaram remédio para isso!
    Também não vejo um futuro promissor para aquelas que se encontram do outro lado da linha. Lado onde vejo as recatadas, que tem medo de conhecer gente pela internet, que sonhavam em se casar de branco na igreja, ter somente um ou poucos homens na vida, que não admitem qualquer tipo de traição (nem simples indícios), as que, de tanto esperar pelo tempo certo das coisas, quando decidem agir acabam percebendo que já é tarde demais, as que antes de se entregar querem conhecer os valores de família do outro e mostrar os seus.
    E claro, o gênero intermediário, das deslocadas, das que não são tão românticas, pois não fazem questão de ganhar um buque com uma dúzia de rosas, mas se encantam quando ganham uma solitária; não fazem questão de casar de branco na igreja, mas querem uma festa, por mais simples que seja, para celebrar o momento; não fazem questão de ganhar jóias caras, mas se chateiam se as datas especiais são esquecidas; não fazem questão de várias ligações ao longo do dia, mas dormem mais tranquilas quando ouvem a voz do companheiro antes de se deitar; as que não esperam que o casal esteja sempre grudado, pelo contrário, gostam de ter seu espaço e respeitam e incentivam o momento do outro.
    Foi nessa parte do raciocínio que me ocorreu a ideia da esperança. Que saída: juntar-me de vez às tresloucadas, tendência para qual minha personalidade, sob alguns aspectos, parece ser naturalmente inclinada ou retrair-me cada vez mais, fechando todas as portas a ponto de eliminar as boas chances que poderiam aparecer, mas preservando minha paz de espírito, direção para a qual também me vejo fortemente tendente?
    E aqui entra o lado masculino também. Como as relações estão plenamente efêmeras, fulgazes, facilitadas, os homens também estariam um pouco destituídos de algumas funções características. Mandar flores e parecer piegas ou não fazê-lo e, adotando um estilo mais descompromissado, cafajeste, agradar uma inumerável parcela do sexo oposto? Escrever um belo poema e parecer adepto do sentimentalismo barato (praticamente sem espaço hoje), ou escrever logo uma sacanagem e passar a ideia de bom pegador?
    Conheço os que estão solteiros a contragosto (o que não significa necessariamente sozinhos), simplesmente por não encontrarem alguém que faça valer a pena sair dessa condição e os que, amantes de desenfreada liberalidade feminina, caem na farra e não acreditam nem esperam algo muito diferente disso. Os que, embora conscientemente elogiem a revolução feminina, na prática não sabem lidar com nossa independência e segurança, seja financeira ou emocional (pois sim, também acho que isso lhes retirou um pouco a proeminência no jogo) e os apreciadores das sutilezas femininas, ainda que na simples delicadeza de um vestido! E assim, ao menos enquanto gênero, enxergo os homens, em sua brutalidade, na condição de opressores e, ao mesmo tempo, em sua sensibilidade, como vítimas da própria opressão.
    Acho que, desde que consciente deste ato dilacerante, ao menos por enquanto me permitirei o artifício da esperança. Primeiro porque esse meu excesso de transparência, característica facilmente notável por quem realmente me conhece, me causa, ao menos enquanto dela não tenho pleno domínio, repulsa à utilização de qualquer máscara.
    Segundo, porque acredito que haja mais pessoas perdidas por aí. Conheço e convivo com gente de todos os tipos aqui descritos. Por isso, desde que continue me permitindo conhecer pessoas (pois meu descrédito no otimismo e romantismo exagerados me bloqueia a ideia de que a sorte fará a felicidade bater a porta), acredito ainda ser possível esbarrar com semelhantes.
    Terceiro, porque hoje vejo essa questão pessoal não como um complemento para a vida, mas como um elemento agregador. Como diz aquela historinha onde chega-se a conclusão de que o melhor lugar para se esconder um tesouro seria dentro do próprio ser humano, pois é o último lugar onde procuraremos por ele. Não adianta procurar a felicidade em outro lugar que não dentro de nós, embora eu também aceite que elementos externos possam sim potencializá-la.
    Minhas decisões foram tomadas de forma consciente, embora não sem muito derramamento de lágrimas. Troquei mais de uma vez a segurança pela simples esperança, com convicção das dificuldades encontraria. Digo que, ao menos por enquanto, não sinto arrependimento de nada e fui mais longe do que pensei ser capaz.
    Talvez minha opção pela solidão já tenha sido mal interpretada. Dizer que sou feliz sozinha e, ao mesmo tempo, mais feliz ainda com uma boa companhia, pode parecer paradoxal, o que creio ter bem explicado agora. Assim, feliz já me considero. E tanto, a ponto de ver na união como casal não um complemento, precursor de dependência, mas como oportunidade de compartilhamento desse sentimento. Talvez seja um dos poucos casos onde dividir seja mais!

Fui dormir pensando que as prováveis gotas que cairiam do céu no dia seguinte seriam as lágrimas de alguém lá em cima, compartilhando de minha melancolia. Mas, num lampejo de otimismo, acordei achando melhor pensar que seriam decorrentes da limpeza do salão pra festa.

Coisas que vale o fim de semana, partes 3 e 4

    Observar o adestramento de cães; meus novos patins; o Buks e as surpresas que me reserva; conhecer e reencontrar o Michael, o Athos e seus donos; as pessoas no slackline; a pipa; o mar agitado; o canto dos pássaros; o carinho dos amigos e da família (mesmo com telefonemas que me acordaram cedo demais); os presentes (todos, mas principalmente os livros); as gargalhadas e a própria melancolia, pois acho que até nela é possível vislumbrar alguma beleza.
    Correr e andar de bicicleta na chuva, e observar como ela camufla o suor do corredor e disfarça o choro da mulher. Chegar em casa toda suja de lama... e largar a bicicleta mais suja ainda!

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Menos um

    Lá estava eu, na minha aula de filosofia medieval, ouvindo sobre Santo Agostinho, quando o professor começou a falar sobre a tal acrasia. Algo sobre não ter domínio de si próprio, ausência de auto-controle, e que nos levaria a questionar por que, em determinadas situações, mesmo sabendo o que é melhor para nós, agimos de forma diferente. Fraqueza da vontade. Foi nessa hora que comentei com o colega ao lado que o nosso outro colega, que dormia bem a nossa frente, era um exemplo vivo e presente da acrasia: ele queria assistir a aula, prestar atenção, mas acabou se rendendo ao sono; sucumbiu à fraqueza da carne e dormiu! Acontece, respondeu-me ele, que nosso amiguinho tem passado as noites em uma ocupação que está rolando desde outubro lá na Cinelândia.
    Dei uma pesquisada aqui na internet e vi que se trata de um movimento dito “dos indignados”, no estilo do que ocorreu em Nova Iorque, formado por estudantes e simpatizantes de causas sociais, não só do Rio, mas também de outros Estados. Formado por diferentes estilos, o movimento congrega indignados com a situação política, com questões ambientais, com a violência e até especificamente contra a criação usina de Belo Monte.
    Eu já escrevi em um post anterior que adoro quando tenho preconceitos quebrados, não? Eu, que costumo me vangloriar de não faltar a nenhuma aula, mesmo não precisando, em tese, deste diploma para mais nada e que nunca entendi como a galera nova, que tem aquela como primeira faculdade, pode se ausentar tanto. Pois, tal qual já me disseram por lá, para que tanto empenho e preocupação se já sou formada? Mas não adianta; se me proponho a fazer, vou fazer o melhor que posso (o que não quer dizer o melhor que gostaria).
    Percebi que, no fundo, enquanto estou ali, marcando presença e fazendo algo que somente beneficia a mim mesma, alguns faltantes ou dorminhocos talvez estejam, ao menos em tese, fazendo algum bem para além de si mesmos, ou seja, mais do que eu.
    O que importa com tudo isso é dizer que, ao menos com esses tapinhas me sinto bem, pois eles me fazem repensar algumas coisas e, já que estávamos em uma aula sobre filosofia cristã, posso dizer que é o único tapa para o qual ofereço, de bom grado, a outra face. Surpreendam-me mais!

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Me alimento de devaneios...

    Num desses meus dias de folga, um daqueles que faz os críticos do funcionalismo público me odiar, assisti (na verdade, não pela primeira vez, mas minha fraca memória permite o ineditismo) a um filme de sessão da tarde. Um daqueles que remetem à infância, admitam: Mudança de hábito.
    Achei tão engraçado quando, percebendo que a revolução que causara no coral da igreja trouxe novos fiéis, atraídos pela música animada e coreografia meio que desengonçada, rebateu as críticas dos religiosos conservadores dizendo que as pessoas não iam à igreja porque achavam chato!
    Algum tempo depois me peguei pensando no texto que precisava ler para entregar meu trabalho: Crítica da faculdade do juízo, de Kant. Nunca tinha conseguido entender Kant sozinha. Costumo brincar que ele devia dizer ao elaborar cada parágrafo: “Esse é pra ninguém entender! Hoje vou escrever difícil!”. Parágrafos de dez linhas, sem um ponto final! Sinistro!
    Bom, voltando ao assunto, lá estava eu pensando no tal sujeito transcendental kantiano. Seu imperativo categórico "Age como se a máxima de tua ação pudesse tornar-se lei universal da natureza", sua idéia fixa de moral universal e, no que me tocava especificamente, seu conceito de universalidade no entendimento do belo. Como assim? Se uma coisa é considerada bela, haverá uma pretensão de que seja entendida como tal pelos demais. O reconhecimento da beleza gera uma expectativa de universalização do belo. Kant não admitiria um concurso de beleza, com gradações? Pois, pelo que entendi, a beleza de um objeto exclui a dos demais que lhe são similares.
    Foi aí que fiz uma relação, meio nada a ver, bem característica desses meus pensamentos que vagueiam livremente, sem conexão, mas que, ao final, dão uma idéia interessante. Esse tal sujeito transcendental, perfeitamente racional, moralizado e padronizado me lembrou esses preceitos religiosos de perfeição de conduta, ações regradas, ilibadas, com preocupação e vigilância eternas para não sair da linha, sob pena de castigo, penitência. Acho que foi por isso que sempre achei Kant chato, tal qual a igreja do filme, com esses imperativos distantes da realidade humana, desprezando as diferenças e a falibilidade a que todos sempre estamos sujeitos, inevitavelmente. Ditames para robôs e não para seres humanos.
    No fim, essa maluquice toda é para dizer que não peço que concordem ou discordem de mim; tudo que lhes peço é um tema.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Afinal, o caminhante solitário é um pessimista ou um otimista?

                                                                                                                                            Em 19.11.2011
    Bom, já faz um tempinho que não escrevo sobre os livros que tenho lido. Não que não os tenha achado interessantes ou dignos de nota, mas simplesmente por ter emendado um no outro enquanto várias ideias e tarefas foram surgindo ao mesmo tempo. Essa semana, porém, terminei de ler os Devaneios do Caminhante Solitário - Rousseau, cuja leitura iniciei durante as últimas férias. Foi uma leitura onde fiz questão de, fugindo a regra, não fazer de forma dinâmica. Pelo contrário: lia e relia parágrafos, não sei ainda se para melhor fixá-los ou devido ao embasbacamento que me causaram. Nunca tinha lido Rousseau e, como todo e qualquer tema que trate da solidão humana, minha atenção foi despertada. “Apesar de talvez ser o único no mundo cujo destino fez disso uma lei, não posso acreditar ser o único a ter um gosto tão natural, embora até o momento não o tenha encontrado em mais ninguém.” Ah, meu caro Rousseau... Como queria ter lhe conhecido!
    Foi um de seus últimos livros, restando inacabado. Em tais escritos, ele faz um balanço de sua vida, descreve seu amor pela botânica, pela contemplação da natureza e pela solidão. Registra seus devaneios e relata as injustiças das quais se julgara vítima. Descreve seus sentimentos no fim da vida. A percepção da iminência do fim, a consciência vívida em contraste com a falência e fraqueza do corpo e sua resignação frente a tudo isso. Descrições que me comoveram, e as lágrimas somente não rolaram porque a descrição final, inacabada, deixa a mente surpresa, vaga e os ausentes parágrafos finais a serem digeridos ao sabor de cada leitor.
    Um dos pontos que mais me tem feito refletir é aquele onde Rousseau diz acreditar que não é possível permanecermos nesse estado de completude de forma permanente. A regra não é a felicidade, mas os momentos de alegria? Por que não pode ser o contrário?
    “A felicidade é um estado permanente que não parece feito para o homem nesse mundo. Tudo na terra está em fluxo contínuo que não permite a nada assumir uma forma constante. Tudo muda à nossa volta. Nós mesmos mudamos, e ninguém pode garantir que amará amanhã aquilo que ama hoje. Assim, todos os nossos projetos de felicidade nessa vida são ilusões. Aproveitemos o contentamento do espírito enquanto ocorre: evitemos afastá-lo por erro nosso, mas não façamos projetos para acorrentá-lo, pois tais projetos são pura tolice. Vi poucos homens felizes, talvez nenhum, mas muitas vezes vi corações contentes, e de todos os objetos que me marcaram este é o que por minha vez mais me contentou. Creio que se trata de uma decorrência natural do poder das sensações sobre meus sentimentos internos. A felicidade não apresenta sinais externos; para conhecê-la seria preciso ler o coração do homem feliz; porém, o contentamento pode ser lido nos olhos, na postura, no tom, no andar, e parece ser comunicado àquele que o percebe. Haverá prazer mais doce que ver um povo inteiro se entregar à alegria em dias de festa e todos os corações se iluminarem aos raios expansivos do prazer que passa de maneira rápida, mas intensa, pelas nuvens da vida?”
    Eu acho que é uma daquelas leituras que nos fazem dar mais valor a saúde, a juventude e à lucidez. E é isso que tento fazer todas as vezes em que saio por aí, durante minhas caminhadas, corridas, a pé ou de bicicleta e que me faz querer mais: quero aprender slackline, andar de patins, viajar, conhecer o mundo, ler e escrever. Quero ouvir mais música, dançar, melhorar nos snujs e, quem sabe, aprender a tocar violão. Ver, ouvir e sentir a natureza, voltar para a ioga e aprender as técnicas de meditação. Quero estudar, tirar da minha inteligência tudo o que ela puder me dar e ouvir todas as aulas de filosofia que se dispuserem a me ensinar. E olha que a cada uma delas me convenço de que há muito mais por vir! Frase clichê do filósofo: só sei que nada sei. Mas isso não me desanima. Ao contrário, só me incentiva.
    Não sei, pode ser um pouquinho de melancolia, ainda sob o efeito catártico da leitura, desse reconhecimento da inevitabilidade do fim. Li em algum lugar que o ser humano é o único capaz de ter consciência da sua finitude. Ainda estou convencida de que a ignorância é uma benção, mas talvez, como toda e qualquer regra, também essa tenha uma exceção. Já que não tem jeito, vou vivendo tudo que me aparecer, da melhor forma que puder, o que não quer dizer com pressa, mas com intensidade. Fazendo tudo o que quero e posso, desde que não prejudique ninguém.
    E foi assim que passei esta semana. As pessoas na rua, será que me julgaram maluca? Pois sim, andei rindo pelas avenidas, dei gargalhadas na aula, tive que morder os lábios para não rir para estranhos, exceto para uma garotinha que veio me cumprimentar com um sonoro “Oiiii” e não pude resistir (aliás, dei graças a deus por não precisar fazê-lo).
    Contemplei um mar tão azul, tal qual nunca antes em meus 29 anos carioca-praianos; perdi a conta de quantos cachorros, pássaros; corri com pingos de chuva e simultâneos raios de sol no rosto; assisti a um ótimo filme e ouvi músicas melhores ainda.
    Vamos lá: o que é capaz de fazer uma pessoa sentir-se assim? Duas dicas: caso seja um homem, não se trata da vitória do seu time. Caso seja uma mulher, não se trata de uma nova paixão.
    E, ainda assim, me lembrei de quando diziam que a pessimista era eu, com minha visão schopenhaueriana de mundo. E eles, falsos moralistas, pseudo-otimistas que, em sua indolência, passam o dia simplesmente sobrevivendo e à noite rezam para a sorte e para o acaso?
    Ah, sim. Leitura atual: Quando Nietzsche Chorou e A cura de Schopenhauer, ambos do mesmo autor. Não vejo a hora de entender afinal qual, dentre otimistas e pessimistas, é o verdadeiro realista.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Inerente à falibilidade humana

Tão logo o despertar e na mente aflorar imagens soltas, dispersas, inventadas.
Até que ponto fantasiosas, ludibriantes, auto-enganadoras?
Receio da revelação, da verdade, temível realidade?
Ah, prefiro desfrutar da paixão, essa doença intratável, irremediável, fruto da inevitabilidade se ser humano.

Para alguém que me fez refletir e perceber que, pior do que temer uma nova paixão, seria reconhecer-se insensível para sofrer-se dela.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Sobre o futuro

    Domingo passado (06/11/11), li e vi, sob três aspectos diferentes, algo sobre esse tema. O primeiro foi a coluna do Cacá Diegues, no Globo. Ali, ele descrevia uma situação meio que esdrúxula sobre um futuro onde a humanidade teria uma expectativa de vida bem mais avançada, o que, pelo seu alto preço, privilegiaria os mais ricos, gerando o que ele denominaria de homo ricus. Os menos favorecidos, ficando para trás, seriam, nesse futuro longínquo, lembrado pelos demais como mero homo sapiens, de quem a nova classe descendera. Inclusive, a carne dessas ancestrais seriam apreciadas até mesmo como iguaria pelo homo ricus.
    Mais tarde, assisti ao filme Idiocracy. Nele, há a previsão de um futuro onde as pessoas mais ricas e/ou intelectualmente privilegiadas, preocupadas com um controle de natalidade e tomando precauções (todas e talvez demais), tinham cada vez menos filhos, às vezes até nenhum, enquanto a classe mais baixa crescia incessantemente. Ao longo dos anos, o nível de inteligência da população foi ficando cada vez mais baixo, chegando ao ridículo, e aí crescia a comédia do filme, mostrando um mundo governado por imbecis.
    Depois disso, emendei num programa do canal Futura. Peguei pela metade, a partir do ponto em que os cientistas explicavam algo sobre a nanotecnologia, até que ponto está desenvolvida atualmente e que benefícios pode nos proporcionar a longo prazo. Algo sobre elevadores espaciais, pequenos computadores injetados na corrente sanguinea, capazes de detectar e tratar doenças em estágio inicial, como tumores e até obesidade. Tratou também sobre o teletransporte, como já é possível hoje em dia com fótons e a possibilidade de utilização por seres humanos no futuro. Um cientista comentou que, se ouvisse alguém dizer, há uns 20 anos, que seria possível localizarmos algo ou alguém a distância, a qualquer momento, ele acharia quase impossível. No entanto, hoje em dia temos o GPS, logo, toda a expectativa em torno da nanotecnologia poderia ser encarada como uma realidade possível. Ao final, mencionam que é uma tecnologia de grande impacto, que mudará o rumo da espécie humana sobre a Terra e, considerando o perigo de cair em mãos erradas, sugerem que o assunto deveria ser tratado a partir de agora por autoridades e sociedade.
    E foi a partir daí que me peguei pensando: mesmo se pudesse me transportar para o futuro, acho eu que não teria coragem de saber como as coisas estariam... Eu quero acreditar que as coisas vão melhorar, que o futuro da humanidade será bom, mas minha razão não me permite enveredar muito tempo neste caminho. Como sempre digo, a ignorância é uma benção e meu sentimento de impotência, que me leva à inércia, será minha perdição.



segunda-feira, 14 de novembro de 2011

tédio meu, nem sempre tão criativo

Meu pai.... Sabe uma (das muitas) coisas q me deixam irritada?
Uma das poucas coisas q gosto de ver na televisão é o noticiário e, num dia desses, vejo a mesma  notícia umas dez vezes por dia...
De repente a política, que não a de segurança pública, sumiu???
O Lupi saiu???
Quem mandou emendar o feriado. Fico entediada!!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

honra

    Eu e minha inocência... Sempre achando que já vi de tudo e não me impressiono mais com nada na política e lá vem mais um imoral zombar da cara do povo e depois pedir desculpas com uma cara mal lavada e que, obviamente, longe de qualquer sinceridade, me soa como novo escárnio.
    Para quem não tem senso de ética e moral, pedir desculpas em público, se humilhar, tomar puxãozinho de orelha ou qualquer coisa nesse sentido não faz nem cócegas porque abalar a honra dessa gente é tão difícil quanto comprá-la de um cara honesto.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

 Chichen Itzá
Ilha das Mulheres
Cancun
 
 XCaret
 XCaret
 Cancun
 Tulum
 Tulum
Tulum

Playa del Carmen
 Cancun
 Cancun
 XCaret

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Nada está tão bom que não possa melhorar

    Logo cedo fui para minha corrida. Como gosto de fazer às vezes, permiti-me ficar sem os fones de ouvido para apreender melhor os sons ambientes e observar sem distrações as paisagens.
    E lá estavam os patinhos gritando (alguém mais acha que eles parecem estar gargalhando?); os passarinhos como que em algazarra; aquele céu azul e o Cristo iluminado por aquele sol especialmente colorido da manhã; e uma mulher lendo seu livro na pracinha de bebês. Como não custa nada, dei uma olhada no título: Parabéns, você está grávida. (A princípio, pensei que fosse mais uma fã do padre Marcelo....)
    E agora aqui estou eu, lendo meu livro debaixo de uma árvore, por vezes acariciando um cachorrinho, outras acenando para um bebezinho fanfarrão; e dá-lhe passarinho a cantar, vento a passear, folhas a balançar, criança a gargalhar e, como se não pudesse melhorar, eis que começam a fazer bolinhas de sabão. E o pôr do sol. Mais que bom por hoje.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O nó da felicidade.

    Já faz algum tempo que ouvi pela primeira vez alguém comentar sobre Hobbes e seu Leviatã. Como se tratava de minha melhor amiga e pessoa que considero da melhor qualidade, principalmente sob o aspecto da generosidade humana, a princípio estranhei a defesa de argumentos como a maldade inata ao homem e sua predisposição ao egoísmo e selvageria. Como não tinha nenhum conhecimento sobre a obra, presumi que a argumentação apresentada deveria ser das melhores, tal foi a persuasão que causou.
    Semana passada tive algum conhecimento a mais sobre o tema, em uma aula de antropologia filosófica. Óbvio que Hobbes não é Hobbes à toa e toda a concatenação de suas idéias que, a princípio soariam grosseiras ou indigestas face ao moralismo humano, tornam o conjunto harmônico e muito bem fundamentado. Não é agradável ouvir suas idéias e ter que admitir que, pelo menos em alguns pontos, nos encaixamos no conceito apresentado sim.
    E lá fui eu, novamente, discutir o tema insolúvel da felicidade. Minha amiga permanece firme na tese hobbesiana de que o homem é mal por natureza e só é feliz por comparação. Sabedora das minhas paixões humanas, me questiona se eu não acho que uma pessoa que mora na orla da zona sul, por exemplo, seria mais feliz do que eu, pelo simples fato de morar ali. (entendi bem?) A princípio, não percebi o ardil da pergunta e, embora meio a contragosto, respondi que sim. Claro que isso ficou martelando na minha cabeça e não sosseguei até entender o porquê.
    Não sei se a questão é realmente de felicidade por comparação, porque acho que não se trata de relacionar qual felicidade é maior ou mais completa dentre as apresentadas em relação ao objeto que nos proporciona, como se numa relação exógena. Não concordo que uma pessoa seja necessariamente mais feliz do que outra porque possui mais bens, status, posição social. O que vejo é gente que, como já escrevi em post anterior, a princípio teria tudo para ser feliz e não é. Ou porque não valoriza o que tem, o que é, ou ainda quer mais, só nem sabe bem do quê.
    Não sou hipócrita de negar que acredito que os bens materiais podem proporcionar felicidade, mas a questão é até que ponto a felicidade sentida será advinda estritamente da sua posse. Admito que os bens materiais podem incrementar uma felicidade já existente, porque ela é intrínseca, é um modo como percebemos as coisas e por isso não será a ausência desse ou daquele objeto que nos retirará dessa condição. Talvez, devido a essa eterna insaciabilidade humana, os bens materiais proporcionem não felicidade, mas mera satisfação, a qual, por definição/contextualização seja, necessariamente, efêmera.
    Talvez ser feliz passe um pouco pela questão de sentir-se feliz com quem se é e com o que já se tem; talvez ter consciência de que algumas coisas dependem mais de nós mesmos do que do destino ou infortúnio. Mas isso nos levaria a admitir que somos inertes e passivos muitas das vezes, e isso também não é confortável, pois nos torna mais responsáveis do que julgávamos.
    Admito minha pequenez e não tenho nenhuma pretensão de esgotar o assunto, quiçá de angariar posições a meu favor, ainda mais quando nem eu mesma tenho confiança e segurança para lidar com ele. Tudo isso só corrobora a idéia de que este blog é mais um diário, um espaço para registrar esses meus devaneios e convencer-me sempre mais de que sou uma simples amante desses assuntos.
    É o que acho. Hoje. Cada um tem seu conceito de felicidade. Desejar o que não se tem é fácil e, ao que parece, naturalmente humano. Eu quero é ser feliz com quem eu sou, pois isso acho que intempérie nenhuma nos tira. Sei que ainda tenho muito a aprender e, quanto mais procuro, mais vejo a vastidão do horizonte e é isso que me compraz.

PS. Texto postado com mais de um mês de atraso...
Deixei a poeira baixar para tentar melhor clarificar as ideias e, como não obtive sucesso, transcrevo tal qual se encontra. Acho que o emaranhado é intrínsico ao tema, e não adianta tentar me meter a desatar alguns nós que vem sendo debatidos há séculos.


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A cidade do Rio

   Há cerca de três semanas foi veiculada uma pesquisa que retratava o alto índice de orgulho dos cariocas em relação ao Rio, apesar da violência e demais mazelas. Não tardou surgirem cartas publicadas por leitores e comentários na internet criticando a pesquisa, depreciações à cidade e aos cariocas que se diziam satisfeitos. Todos ali eram praticamente unanimidades no assunto e facilmente capazes de expor todos os defeitos e inconvenientes do Rio.
   Eu sou suspeita para falar, porque, apesar dos pontos negativos, sou apaixonada pela cidade. Podem falar da violência, da sujeira, da bagunça, do trânsito caótico, da corrupção, mas falem com alguma propriedade e com argumentos mais sólidos do que o simples achismo e gosto pessoal. Não conheço muita coisa por aí, mas já viajei o suficiente para poder fazer minhas próprias ilações e conclusões sobre alguns pontos.
   O Rio é violento. Vamos lá: enquanto estive em Paris, em dezembro de 2010, conversei com uma parisiense no Louvre e perguntei sobre a violência na cidade. Disse ela que uma coisa é o centro turístico de Paris, outra eram seus arredores. Saindo um pouco do centro, é possível que voltasse sem a bolsa. Perguntei até como se dava a mecânica da coisa. De repente um empurrão e levam sua bolsa, respondeu-me ela.
   Sujeira espalhada pela cidade. Em Washington, perguntei como era o entorno da capital e responderam que o ônibus tinha o trajeto rigorosamente traçado para que não víssemos a sujeira e a população de rua. Aliás, este deve ser outro ponto presente em quase todas as cidades turísticas.
   Trânsito caótico: por dia eu contava em Paris mais de 10 carros batidos, estacionados nas ruas. Tenho testemunha.
   Desordem e falta de sinalização. Em Roma senti na pele a veracidade do ditado que diz quem tem boca vai a Roma*. Certa hora desisti de procurar/seguir placas/setas/mapas e me convenci de que só chegaria ao destino desejado pedindo informações às pessoas nas ruas. Placa, sinalização e direção praticamente não existem e, quando existem, na maior parte das vezes são contraditórias. Tenho certeza de que dei várias voltas inúteis e perdi um bom tempo pela cidade! Cheguei a brincar com minha amiga dizendo que eu, que considerava o Rio despreparado para receber os próximos eventos esportivos, estava ali revendo minha opinião. O metrô era um canteiro de obras, escadas rolantes fora de funcionamento... Para turistas com malas pesadas, foi uma recepção, digamos, nada agradável.
   Corrupção, desemprego, falta de ética? É só ler os noticiários para vermos que estão por toda parte.
   Podem falar o que quiserem. Ofereçam-me trocar o Rio por Paris, ou até por Dubai que roubou uma parte do meu coração: a maior parte dele ainda preferiria ficar aqui.
   Não estou dizendo que devemos nos acomodar com o que está ruim na cidade, e sei que não é pouca coisa. Querem criticar, ok, mas coloquem a culpa nos verdadeiros culpados: nos cariocas mal educados, nos políticos corruptos, na administração ineficiente, e até em nós mesmos que nada ou quase nada fazemos para mudar a situação, mas não digam que a cidade não é maravilhosa. Pessoas boas e ruins, honestas e desonestas, política boa e má, ordem e desordem, lugares mais ou menos nobres estão por toda parte do planeta. Até a Noruega virou notícia.
   Vá caminhar na Lagoa, pedalar pela orla, tirar fotos no Cristo. Tome um coco na praia cedinho antes do trabalho, ouvindo o quebra-mar, ou passe pelo aterro ao anoitecer depois dele, com o Cristo ao fundo a iluminar-se (principalmente com as luzes desta época). Talvez voltemos um pouquinho menos estressados.

* Permito-me aqui, para fins de contextualização, adotar o enunciado vulgar, embora saiba que o verdadeiro seria “quem tem boca vaia Roma”.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Coisas que valem o fim de semana II

Observar o campeonato de surf;
A mulher de bicicleta com o cachorro;
De novo, o cachorro passeando com o coco na boca;
As folhas secam recém caídas que pairam sob as águas da lagoa;
Passar de bicicleta pelo tapete de folhas avermelhadas;
As frestas de sol entre os galhos da árvore;
Andar pela cidade ouvindo/conhecendo The Cure;
A vista do Leme e do Arpoador;
O grupo de patinhos juntos na lagoa.

    Cara, sabe uma palavra sobre a qual tenho muitas dúvidas? Pena. Dizem que está sempre relacionada a um sentimento negativo, pejorativo, depreciável, enfim. Eu não consigo aceitar dessa forma e não vejo termo que a substitua em alguns casos. Por exemplo, tenho pena das pessoas que tem tudo para ser felizes, mas não são.
    Uma música, um passeio de bicicleta, uma corrida ao ar livre, uma boa comida, uma cena bonita, um filme, um perfume, um animal, um vento no rosto, são capazes de me deixar muito feliz!!! Tenho pena de gente que não se atinge pelas coisas simples, rol no qual inclusive me incluo durante o tempo em que desprezava tais fatos e permitia sua inofensibilidade.
    Pesquisei na internet na tentativa de elucidar um pouco esse sentimento, ver opiniões diferentes. Quem sabe talvez, lendo bons argumentos, eu mudasse minha opinião. E assim, acabei num texto que diz que quem sente pena está, na verdade, disfarçando um sentimento de culpa. Se tem pena de quem não é feliz, por exemplo, é porque se sente culpado por ser feliz. Se sente pena dos pobres é porque tem culpa por ter mais dinheiro do que eles. Não convenceu. Não tenho culpa por ser feliz. Não vou me sabotar por isso e, portanto, vejo a culpa como elemento estranho ao sentimento de pena. Só não consigo entender a dificuldade pra certas coisas e porque tem gente que reclama tanto da vida! Bom, vá lá. Assim como eu para ser feliz, cada um tem seus motivos inclusive no caminho contrário. Talvez no fundo seja só uma questão de ponto de vista.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Coisas que fazem o fim de semana valer à pena:

Já faz algum tempo que tenho essa ideia de escrever sobre as coisas boas que acontecem em um final de semana, enquanto passeio por aí. Sempre deixo pra depois, mas são coisas boas demais para não registrar, então, comecemos:


O cachorro no calçadão carregando o coco na boca;
Os cachorros que brincam na areia da praia;
O garotinho que anda de skate com seu cachorrinho a tiracolo;
A vista das nuvens carregadas de chuva que se aproximam por cima das ondas da praia;
Os raios de sol entrenuvens;
E a criança que abre o sorriso pra você, sem te conhecer.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

E se...

    Semana passada estava discutindo com amigas sobre os filmes “Antes do amanhecer” e “Antes do pôr-do-sol”. Sobre o quanto podemos nos afligir no futuro por conta de decisões tomadas no passado. O quão diferente seria o rumo de nossa vida por conta de uma decisão diferente ou, até mesmo, e pior de tudo, pela falta dela.
    Há algumas semanas eu tentava listar quais seriam meus três livros favoritos. Dentre eles, com certeza, estaria “O mundo pós aniversário”. Na verdade, acho que ele estaria no topo da lista. O livro segue um ritmo normal no início, mas, a partir de certo ponto ele corre através de histórias paralelas, cada capítulo de acordo com uma das decisões que se apresentavam à personagem. No final do livro, percebemos o quanto uma atitude pode fazer a diferença e como somos responsáveis pela nossa felicidade. E pela infelicidade também. Difícil é saber que caminho seguir na hora do conflito. Fácil falar quando já sabemos o final da história.
    Esse tema também me lembra uma das crônicas da Martha onde ela trata do “e se...” e pergunta: “E se você não tivesse terminado aquele noivado de oito anos?” Nossa! Ela agora também lê pensamentos!
     Por isso, sempre retruco quando alguém diz que gostaria de voltar no tempo e reviver tal ou qual coisa. Pode até voltar, mas tem que ser com a mesma consciência daquele momento, topa? Com a atual seria fácil demais! Mas, mesmo que pudéssemos reviver nossos 20 anos com a maturidade dos 30, por exemplo, que graça teria? Evitaríamos alguns erros e cometeríamos outros, não tem jeito. E quereríamos os 20 anos com a maturidade dos 40, 50, 60... Ainda assim, onde estaria o entusiasmo para rever um filme o qual já conhecemos o final? Bom, com certeza haveria vantagens, mas, já preparados para tudo, não nos surpreenderíamos com nada e tenho minhas dúvidas sobre a satisfação disso.
    Dentre todos os questionamentos filosóficos clássicos como “de onde viemos, para onde vamos, por que, quando e como” talvez falte o mais intrigante de todos: e se tivéssemos feito algo diferente? Isso justamente porque, dentre todas as questões mais absurdas que poderíamos aventar, esta talvez seja a que mais suscite respostas concretas, plausíveis e perturbadoras.
    Depois de muito pensar sobre isso, simplesmente não sei mais o que pensar. Nem cheguei à conclusão nenhuma. Acho que o questionamento é profundo e pode machucar. Por isso, amigo, não sei se te desejo que reflitas sobre a questão para que, talvez, abra os olhos para o que possa te passar despercebido ou que leves uma vida tão boa, feliz e completa que nunca precises se deparar com ela.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Pessoas, digam-me que não sou a única maluca que, enquanto anda de bicicleta, desvia de uma eventual formiga no chão? Que corre e anda de bike ouvindo new age, músicas clássica, árabe e celta?

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Perfume - Livro

    Eu tenho essa característica que, até hoje, não sei se é boa ou ruim. Algum tempo depois de ver um filme ou ler um livro, posso travar novo contato com ele como se fosse algo inédito. Não é raro comentarem sobre algum filme que já assiti, porém não me recordo. Isso é ruim porque as histórias não me marcam o suficiente e preciso despender tempo revendo e relendo algo em detrimento do novo. Lado bom: posso me deslumbrar, pelo menos algumas vezes, com a mesma coisa. O fascínio do ineditismo a cada releitura.
    E foi isso que aconteceu hoje. Há um bom tempo assisti o filme “Perfume: a história de um assassino”. Lembro que foi muito bom, mas, obviamente, depois de alguns anos, não me recordava mais do seu desenrolar. Por isso, não hesitei em comprar o livro assim que o encontrei, por acaso. Leitura com início e término no mesmo dia, de tão boa.
    Interessante a descrição de odores e percepções olfativas, sem falar do contexto histórico que provocou, ao menos em mim, uma visão alternativa de Paris no século XVIII. Quando assistimos a um filme de época é fácil identificarmos o vestuário, a maquinaria, o contexto e o cenário urbanos no contexto, enfim. Mas acho que poucas pessoas atentariam para o aspecto olfativo do ambiente. E essa descrição, logo no início do livro, já me deixou extasiada.
    É fato que se estamos impregnados de um cheiro passamos a não mais percebê-lo e o livro faz várias menções a isso, o que me levou a questionar até que ponto algumas sensações derivam somente do que é visto, da memória, da leitura musical e até que ponto a questão olfativa contribui para tal percepção. A felicidade que estava sentindo, por exemplo, enquanto lia essa história na Lagoa, ouvindo minhas músicas favoritas, advinha somente da bela paisagem, da melodia, do prazer da leitura em si mesmo ou também do cheiro da chuva que já se vislumbrava no horizonte, da grama recém-cortada? Até que ponto o olfato foi subjugado pelas demais sensações externas e será que o mesmo não se deu também com os outros sentidos?
    Coisa que sempre me intrigou desde criança era a questão de haver gente surda, muda, cega, pessoas que perdem o tato devido a alguma doença, mas nunca li ou ouvir falar de alguém com deficiência de olfato. No caso do livro, porém, a questão não é de ausência, mas de sentido exacerbado.
    Achava que descrever aromas era tão difícil quanto descrever sentimentos. Não se tratava de algo para ser descrito, somente sentido e por isso o livro é tão fascinante. Trata-se, enfim, de uma leitura tão inebriante quanto possa ser sugerido por seu próprio título.

Aliás, anosmia é o nome dado à deficiência olfativa.
Algumas deficiências não têm solução; outras, como a de conhecimento, o Dr. Google resolve.

terça-feira, 12 de abril de 2011

    Quem me conhece sabe da minha aversão a engarrafamentos, sendo este, inclusive, um dos motivos pelos quais, ainda, pelo menos, não me interessei por dirigir. Mas, como circunstância inevitável numa sexta-feira à tarde, por volta das 17 horas, lá estava eu, parada em frente a uma escola municipal no Centro do Rio. Era horário de saída das crianças. Os pais naquele alvoroço do lado de fora, fazendo reconhecimento dos rostinhos; as crianças em fila; umas pulando, brincando; outras, já do lado de fora comiam biscoito, tomavam sorvete...
    Percebi há quanto tempo não parava para lembrar da minha infância. Nossa! Como era bom. Ser criança é bom. Conviver com criança é bom.
Que saudade...
Que vontade de ...

quinta-feira, 17 de março de 2011

O que chama minha atenção na Av. Rio Branco, numa tarde chuvosa de 2ª feira? Uma mulher com um violão nas costas. Ainda chego lá. Por enquanto, ando só com meus snujs na bolsa....
Propaganda na Av. Presidente Vargas sobre cirurgias dentárias por computador.
Não entendi até que ponto é uma propaganda eficiente....

quinta-feira, 10 de março de 2011

Afinal, qual o alcance do conceito de amizade?

    Mês passado comprei a Revista Super Interessante que tratava sobre a amizade, com uma frase de chamada sobre a impossibilidade de ser feliz sozinho. Como estou em uma fase em que suponho viver um pouco o contrário disso, não poderia deixar de ler.
    A matéria é bem interessante, tratando das questões evolutivas, hormonais, sociais e psicológicas que cercam o tema. Claro que não poderia deixar de tratar das redes sociais, instrumentos que tornam os deles desprovidos, como eu, seres bizarros e deslocados.
    Bem, já não é a primeira vez que escrevo aqui sobre o que acho dessa questão. O fato de a pessoa ter centenas de amigos na internet não quer dizer que tenha cinco verdadeiros. Na verdade, acho que ter dois bons e leais, hodiernamente, já é um fato digno de comemoração. Aliás, a matéria diz, com base em Platão e Aristóteles, que cinco é o número máximo de amizades verdadeiras que podemos manter (procurei por esse texto, mas não encontrei...) Enfim, falou-se bastante das relações entre redes sociais, internet e a amizade. Todo aquele blá blá blá que não me convence muito.
    Resumindo, achei meio forçado dizer que é impossível sermos felizes sozinhos. Talvez completamente sozinhos sim, mas, quem sabe com uma bicicleta, uma estrada, um bom filme ou livro, boa música ou outro hobbie qualquer não seja tão impossível assim??? Afinal, a matéria também dizia que hoje em dia o conceito de amizade mudou. Tornou-se mais superficial. Ah, tá. Sendo assim, acho que falamos, falamos, falamos e acabamos chegando à mesma conclusão.



Alguém possui um guia de sobrevivência ao carnaval?

    Gente, coisa difícil sobreviver ao carnaval no Rio de Janeiro, com aquele detalhe básico: não faísca em mim nem uma centelha de um espírito folião! Tá bom. Sobreviver é uma palavra muito forte. Digamos, bem viver.
    Uma coisa é morar no Rio de Janeiro, avessa a samba, durante os outros meses do ano. Agora, ser minoria durante o carnaval... Não tem para onde fugir. O trânsito, os horários e todo o funcionamento da cidade se alteram e sobram poucas opções para os deslocados como eu.
    Diário de uma avessa à folia: tentar ir ao cinema. Maratona para chegar. E, pelo caminho, observar toda a multidão pulando, brincando, dançando e cantando. Essa é uma boa chance para sentir na pele o que sofrem as minorias marginalizadas de que sempre ouvi falar.
    Na parada para o almoço, a praça de alimentação está fantasiada (no sentido literal e metonímico). Só de olhar para os sapatos enlameados das pessoas já dá para perceber que a festa foi boa (dependendo do ponto de vista). E parece que ainda tem energia para continuar, sem muita folga. Tenho que admitir: minha fisionomia era de desolação!
    Pessoas, juro: eu queria ter uma alma mais foliã. Já escrevi em um post anterior que não reparo muito nas pessoas uniformizadas, porque sou super desligada e, para mim, todas ficam padronizadas: irreconhecíveis. Mas, como tinha me prometido, passei a prestar mais atenção nisso e tentei melhorar. E foi o que aconteceu durante o almoço. Enquanto eu estava lá, alheia a toda aquela felicidade carnavalesca, fiquei pensando que aquela garçonete, trabalhando, também com seu rosto desolado, deveria estar se imaginando no cordão da bola preta. E o que ela não faria por isso... Já eu, faria algumas coisas para que tudo funcionasse normalmente ou, ao menos, como outro feriado qualquer...
    Eu sei. Os incomodados que se mudem. Admito que faltou planejamento e que um pouco de sol também tornaria minha aversão um pouco menor. Por isso, enquanto para a maioria das pessoas o Ano Novo é o marco para fazermos planos e promessas para os próximos 365 dias, eu resolvi adotar o carnaval como meu Rosh Hashaná, um marco zero particular. Prometo que meu próximo carnaval será diferente. Se possível, vou bater em retirada.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Cena

   Nossa! Tô há um tempão pra esrever isso.
   Semana passada, uma cena, no final do dia, salvou minha semana.
Ao olhar para trás na rua, quase que automaticamente, vi um carro parar para que um garotinho, simplesmente, jogasse no lixo uma latinha de refrigerante.
   Como tinha lido nesse dia várias citações (supostamente) de Chaplin, imediatamente me lembrei de uma em especial. Era algo do tipo: “se as crianças são inteligentes e aprendem rápido, por que os adultos são idiotas? A educação deve ter algo a ver com isso”.
   É uma coisa que sempre me perguntei, e aos que estão a minha volta. O que se passa na cabeça de uma pessoa, quando ela joga seu lixo no meio da rua? Da janela do ônibus? Acho que é simples. Nada!


quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Chaplin

"Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato.
E então, pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome... Auto-estima.
Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra minhas verdades.
Hoje sei que isso é...Autenticidade.
Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje chamo isso de... Amadurecimento.
Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é... Respeito.
Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável... Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início minha razão chamou essa atitude de egoísmo.
Hoje sei que se chama... Amor-próprio.
Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro.
Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.
Hoje sei que isso é... Simplicidade.
Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre ter razão e, com isso, errei menos vezes.
Hoje descobri a... Humildade.
Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece.
Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é... Plenitude.
Quando me amei de verdade, percebi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada.
Tudo isso é... Saber viver!!!"

Charles Chaplin

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Escravidão

    Um dos vários livros que estou lendo ao mesmo tempo é de Sêneca, “Aprendendo a Viver”. Hoje me deparei com o texto “Do senhor e do Escravo”, o que me levou a pensar um pouco sobre o tema e algumas nuances que o julgo capaz de conter.
    Tomamos a ideia do escravo como aquele que é submetido por um elemento externo. Mas acho que tal submissão pode dar-se pela força física, pela opressão, pelo baixo conceito sobre si mesmo, pelos desejos desenfreados, pela ignorância, pela opinião alheia, pelos vícios, pelos costumes arraigados e inquestionadamente praticados... “Escravos somos todos, se pensares que a sorte tem igual poder sobre nós e eles (escravos)” (Sêneca).
    Acredito que o conceito de humilhação pode me ajudar a desenvolver uma ideia sobre a escravidão, a partir do momento em que a humilhação pode ser causada por uma ofensa à honra, incidindo diretamente sobre o decoro ou a dignidade. O próprio direito penal diferencia os conceitos quando tipifica autonomamente os delitos de injúria e difamação. Aquela ofende o conceito que a pessoa tem sobre si mesma, sua dignidade, aquilo a que se chama honra subjetiva. Já na difamação observa-se uma ofensa à reputação da pessoa, ao conceito que ela goza perante a sociedade. É a honra dita objetiva.
    Levando aqui em conta a humilhação que agride esta moral dita interior, a dignidade, acho que poderíamos dizer que goza da liberdade, por exemplo, aquele que não se deixa atingir pela opinião alheia, posto que tem consciência de si mesmo e de seu valor. Para chegarmos a tal ponto, porém, creio ser preciso livrarmo-nos de algumas restrições, convenções e imposições sociais cuja violação, a princípio, sugeriria exatamente o contrário do que se pretende demonstrar. “Por isso, acho cômico esses grandes homens que pensam ser humilhante jantar com o seu escravo. Por quê? Apenas em virtude de um costume arrogante, que impõe ficar o patrão, enquanto come, rodeado por uma multidão de servos em pé? E ele que come além da capacidade do seu estômago e, com grande avidez, distende o estômago já satisfeito, que já não sabe mais as suas funções, ingerindo à força e com grande esforço o excesso de comida” (Sêneca).
    Escravo pode ser, por exemplo, quem repete tudo o que ouve sem retrucar e, quando o faz, retruca com argumentos alheios, pois não tem senso crítico para criar os próprios; é quem se envergonha de agir por temer a opinião alheia; quem não volta atrás em suas decisões para não demonstrar fraqueza, ainda quando reconhecido o erro.
    Progredindo nesse tema cheguei à questão dos conselhos. Já diz o ditado que, cada cabeça, uma sentença. Cada pessoa tem uma história de vida que, assim como sua impressão digital, nunca coincidirá com a de outra. Cada um tem sua impressão vital. As nuances da vida marcam cada pessoa de uma forma exclusiva. Some-se a isso uma gama de elementos genéticos definidores dos vários tipos de personalidade e teremos um sem número de sentenças antagônicas sendo proferidas pelo mundo afora por cada um de nós, juízes de nós mesmos. Por isso, considero que os conselhos podem ser bons, mas, antes de utilizados, deveríamos analisar firmemente se o entendemos e assimilamos pois, o conselho, embora bom, pode não nos proporcionar o bem.
    Cada vez que leio Sêneca mais admiro sua obra, principalmente porque praticou o que pregou, haja vista a história de sua morte, onde fora condenado ao suicídio e, por formas mais que dolorosas, executou-a de acordo com sua filosofia estóica, fato que, creio eu, lhe confere muita credibilidade. Uma coisa é a palavra escrita, posta no papel de forma de ideia, simples e abstrata. Outra é aplicá-la no cotidiano. Já li em algum lugar que a realidade não é párea para a imaginação. Que nos digam todos os anos novos passados, incapazes de suportar todas nossas resoluções. Algumas ideias antes de serem postas em prática necessitam de um período de amadurecimento, sedimentação. Alie-se a isso um pouco de vigilância e determinação, já que o tempo passa e, sob alguns aspectos, ele não tem a vida toda para nos esperar. “Não quero tomar mais teu tempo: de fato, não precisas de exortação. Os bons costumes, entre outras coisas, tem como característica isto: agradam a si mesmos e permanecem. A malícia é inconstante, muda frequentemente, e não para o melhor, mas para outra coisa. Passa bem.” (Sêneca).

Gente, desculpe o monte de ideias que até podem parecer desconexas, mas retratam o modo em que se encontram na minha cabeça agora. Trate não como um primado pela técnica, mas como um desabafo.
J




quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ano Novo

    Semana passada vi a chamada para uma matéria que dizia que as pessoas estão fazendo menos planos para o Ano Novo. Não cheguei a ler por completo, mas fiquei pensando se seria por estarmos mais descrentes ou desesperançosos. Como costumamos ter planos demais e atitudes de menos, achei que a desilusão talvez acabe sendo a conseqüência mais previsível do excesso de metas.
    Por outro lado, tenho prestado atenção a um comercial do jornal o globo onde vários pontos turísticos e símbolos do Rio aparecem ao lado do que, poderíamos dizer, seriam os seus votos para o Ano Novo. A praia, a igreja da Penha, as ruas, praças e calçadas do Rio. Tenho que dizer que adorei o comercial pela singeleza, delicadeza e, uma vez mais, pela criatividade. Um dos elementos mostrados, porém, diferenciou dos demais. O Jardim Botânico desejava, simplesmente, continuar sendo amado. Achei interessante notar que, enquanto todos desejamos alterações, coisas novas, mudanças, outros podem se dar ao luxo de, serenamente, desejar que as coisas continuem.
    Esse foi o clique. Estamos fazendo menos planos porque desistimos deles ou porque estamos nos sentindo mais completos? Que, no Ano Novo, sejamos capazes de planejar menos e agradecer mais. Que passemos menos tempo desejando as coisas e mais tempo contemplando as que já se tem. Que possamos ter tão poucas necessidades a ponto de almejarmos somente a continuidade.

...

Só pra completar sobre o filme do facebook. Acho que confirmou uma certa teoria, né?
O cara tinha um milhão de amigos virtuais; nenhum amigo real.
Tiro no pé.
Tudo bem. Deve haver exceções.
J